Shaw: Let the Soil Play Its Simple Part

Shaw: Let the Soil Play Its Simple Part

Caroline Shaw é uma compositora que não fica parada. Sua música, cheia de detalhes meticulosos, combina uma imaginação fértil com instinto de acessibilidade. Essa rara combinação lhe rendeu o Prêmio Pulitzer (por Partita for 8 Voices, obra para coral de 2012) e chamou a atenção de Kanye West, que a convidou para participar do álbum The Life of Pablo (2016) e acompanhá-lo em turnê. Shaw: Let the Soil Play Its Simple Part leva a compositora norte-americana a uma nova direção: um álbum colaborativo, e parcialmente improvisado, para percussão e voz solo – da própria compositora. Ele surgiu durante os intervalos da gravação do EP Narrow Sea (2021), trabalho que conta com a soprano Dawn Upshaw, o pianista Gilbert Kalish e o conjunto Sō Percussion. Depois ela passou mais três dias em um estúdio em Vermont, onde trabalhou com o Sō Percussion mais intensamente. E não é por acaso que a música dessas sessões às vezes tem uma linguagem mais pop. “A gente queria fazer música com todo mundo junto no estúdio, como fazem as bandas, sem ninguém no comando”, diz a compositora ao Apple Music. “Geralmente eu não trabalho com canção, esse formato com menos de cinco minutos, letras, estrofe e refrão.” Isso está na essência de Shaw: Let the Soil Play its Simple Part. “Se você deixar que todos sejam eles mesmos e venham para o projeto com suas próprias histórias e com seus interesses, você vai ver o que sai a partir daí”, diz ela. As sessões se tornaram experimentos musicais, incluindo duetos improvisados entre Shaw e um integrante da Sō Percussion de cada vez. As letras do álbum são tão abrangentes quanto a própria música, inspiradas em Ulysses, de James Joyce (“a linguagem dele é muito musical, engraçada e misteriosa”), na poesia de Anne Carson e no hinário de American Sacred Harp do século 19. “Como compositora, procuro textos que tenham um toque lírico, que soem bem cantados”, diz ela. “A maioria dos poemas não serve para ser cantada, mas você encontra palavras que soam bem, dizem a coisa certa e têm uma combinação perfeita de forma e conteúdo.” A seguir, Shaw comenta cada faixa desse álbum fascinante. To the Sky “Essa faixa começou como uma obra de Jason Treuting [compositor e percussionista do Sō Percussion] que depois se transformou em algo diferente, e eu mudei a harmonia. Ela tem muitos detalhes rítmicos ao fundo, então parece improviso, mas na verdade é construída de forma cuidadosa e concisa. Eu uso uma ferramenta chamada Helicon VoiceLive, que é uma espécie de vocoder e harmonizador vocal. Todos as vozes do álbum são minhas, em diferentes versões e camadas.” Other Song “‘Other Song’ é a primeira faixa que Sō Percussion e eu fizemos juntos, e é uma versão de uma música que eu escrevi originalmente para orquestra, como uma homenagem a [cantora e compositora] Sara Bareilles. É tudo uma questão de composição – eu estava falando com jovens compositores sobre como escutar o que já está na música, deixá-la dizer aonde você deve ir e prestar atenção ao que está dentro de você. O som do começo é feito com vasos de flores, com uma longa improvisação de percussão. Queria que todos trouxessem os seus brinquedos!” Let the Soil Play Its Simple Part “Eu fiz quatro duetos, um com cada membro do grupo, e aqui é o meu dueto com o [percussionista] Josh Quillen. Ele toca o tambor duplo de aço incrivelmente bem. Ele conhece e estudou o instrumento durante muito tempo. A gente teria só uma hora para fazer a faixa, então, antes de começar, eu me sentei e escrevi um monte de palavras livremente. Daí eu dei a ele alguns acordes e uma ideia da estrutura, e aí gravamos. Fizemos um take, para ver como ficava, e depois o segundo take, que é o que ficou valendo. E foi assim, sem edição.” The Flood Is Following Me “Essa música tem uma introdução de percussão bem delicada e precisa. A voz faz parte desse universo, em vez de se destacar, como em uma canção. Aqui você ouve sílabas, fragmentos de coisas e, só de vez em quando, uma frase completa com palavras. Pensamos em integrar mais a voz com a percussão. James Joyce gostava de palavras e de brincar com elas, então usei essa abordagem com as palavras dele.” Lay All Your Love on Me “Esse é um arranjo da música do ABBA. Eu amo a harmonia coral dela, que tem uma conexão com os corais de Bach e com várias músicas que adoro. O original é um grande sucesso dance e que é devastador e trágico, então essa é uma versão bem devastadora e solitária também. Os momentos de silêncio são tudo. O rigor da contagem e de segurar cada batida foi muito importante para mim.” Cast the Bells in Sand “A letra é de Josh Quillen. Ele me mandou uma parte de um poema antigo, e eu brinquei com ele melodicamente. A música lembra um pouco o filme Blade Runner. Ela tem uma qualidade obsessiva que eu adoro e é uma ótima sequência para ‘Lay All Your Love on Me’. A profundidade do som da bateria [tocada por Jason Treuting] parece um trunfo da engenharia. Há um momento incrível, perto do final, em que a bateria simplesmente para.” Long Ago We Counted “Este é o meu dueto com Jason Treuting. Queria descobrir o que aconteceria se a voz, sem linguagem, e a bateria dialogassem, como dois bebês conversando. Então a gente criou essa confusão, sem nenhuma palavra em particular. E daí criamos uma espécie de loop sonoro que leva a música adiante e a completa.” A Gradual Dazzle “Essa música é como um pequeno tesouro perto do final. A percussão na abertura é todo mundo tocando com uma baqueta de feltro no surdo ou no bumbo, um pouco fora de sincronia. Um ano antes eu tinha escrito os acordes para uma peça de balé, e eles giram, aumentam e se entrelaçam de uma maneira estranha. E aí eles começam de novo, continuamente. A bela poesia de Anne Carson – de uma série de poemas sobre as pinturas de Edward Hopper – é profunda e complexa, mas também é extravagante.” A Veil Awave Upon the Waves “Essa é outra com James Joyce. É a faixa que soa mais fluida. Ela vai para todo lugar e para lugar nenhum, mas eu meio que gosto da energia. Na verdade, a música tem um padrão rítmico e harmônico que foi construído com muito cuidado. Tentei misturar minha voz com a percussão como parte do grupo, em vez de flutuar por cima dele.” Some Bright Morning “A ‘Salve Regina’ do século 13 tem uma melodia que eu adoro e que conheço profundamente. Esse é o meu dueto com [o percussionista, compositor, produtor e integrante da Sō Percussion] Eric Cha-Beach. Nós pensamos: ‘E se Eric quiser usar uma única nota, mas levar diferentes texturas e cores para ela, e eu cantar a melodia sobre ela?’. Não sabíamos muito bem quais palavras usar, ou se deveria ter letra, mas tem uma antiga canção americana chamada ‘I’ll Fly Away’, que é sobre a morte. Eu meio que desconstruí a letra dela.

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