Cape God

Cape God

Em 2015, a HBO exibiu o documentário Heroin, Cape Cod, USA. Como muitos que o viram, Allie X ficou profundamente comovida com as histórias de prósperos jovens adultos, cujas vidas foram destruídas pelo vício em fentanil. Mas para Allie, a cantora de Toronto nascida Alexandra Ashley Hughes, o filme se tornou mais do que algo a ser recomendado aos amigos — ele inspirou o conceito para o seu segundo álbum: Cape God não é apenas um trocadilho conveniente, mas um universo paralelo imaginário — “um lugar na Costa Leste que parece uma foto de Gregory Crewdson”, diz ela ao Apple Music — no qual Allie usa uma das personagens do filme como avatar para enfrentar memórias dolorosas de seu próprio passado. “Eu não escrevia músicas quando era adolescente”, explica ela. “Eu não compartilhava minhas dores, medos, minhas vergonhas ou todas as coisas que estavam acontecendo comigo. E tudo permaneceu guardado dentro de mim, então eu senti que precisava cantar sobre isso neste momento, pois são essas as coisas que nos fazem nos tornar os adultos que somos.” Os temas sobre alienação e insegurança que percorrem o álbum também são altamente emblemáticos na trajetória musical de Allie como uma artista independente do Canadá que conseguiu se infiltrar nos altos escalões da máquina pop de Hollywood, recebendo elogios de Katy Perry e compondo para estrelas como Lea Michele. Gravado na Suécia com o produtor Oscar Görres, Cape God é um testemunho da estatura única de Allie como uma artista que pode atrair tanto astros do Top 40 (Troye Sivan) quanto os principais artistas de rock alternativo (Mitski) para o seu amorfo mundo sonoro. Faixas de R&B como “Devil I Know” e “June Gloom” podem exibir a proeza pop que Allie mostrou em sucessos anteriores como “Casanova” e “Paper Love”, mas em termos de letras, eles são uma comemoração para os desajustados que não foram convidados para a festa. Aqui, Allie nos conduz faixa a faixa pela topografia única de Cape God. Fresh Laundry “Eu escrevi o verso de abertura — ‘Quero estar perto de roupas limpas’ — quando estava doente na banheira, há três anos. E eu falei, tipo, ‘Oh, eu gostaria de poder voltar a ser cuidada pela minha mãe e colocar o meu rosto em uma toalha limpa com cheiro de sabão Tide.’ Mas esse é um sentimento que eu tenho há muito tempo — tipo, desejando ser cuidada, mas sem realmente saber como.” Devil I Know “Esta talvez seja a música mais acessível, da qual você se lembra imediatamente. Mas a letra é muito sombria! Estou cantando sobre mim — para mim, é sobre lutar contra seus próprios demônios. Há um verso: ‘Poderia fingir que estou rezando agora, mas estou apenas de joelhos / Eu poderia gritar: ‘Alguém me ajude’, mas a malvada sou eu’. Basicamente, essa é a mensagem da música.” Regulars “Das músicas que eu escrevi, esta é uma das minhas favoritas; é tipo a minha ‘torch song’ [música romântica sentimental]. É como eu sempre me senti. É um tema bastante universal: muitas pessoas se sentem marginalizadas. Tipo, eu sei fingir, sei agradar as pessoas, mas não me sinto compreendida a maior parte do tempo. Isso se aplica à indústria da música; isso também se aplica a todos os meninos que nunca me acharam atraente durante o ensino médio. Eu tinha uma imagem real em mente quando escrevi esta música —quando eu canto ‘Que sentimento / Pendurando-se em um prédio’, imaginei pessoas indo para o trabalho das nove às cinco em seus trajes corporativos, e elas estão ali, penduradas em arranha-céus, pela ponta dos dedos, sorrindo e pensando: ‘Talvez eu me solte’.” Sarah Come Home “Há uma compositora, Sarah Hudson, conhecida por escrever ‘Dark Horse’ para Katy Perry. Ela deveria ir a uma sessão de gravação e teve que cancelar na última hora, então estávamos brincando na sala e pensando: ‘Sarah, volte para casa!’ E eu fiquei, tipo, ‘Espere aí, essa é realmente uma letra muito boa para este mundo que estou construindo!’ A música não é diretamente sobre algo que aconteceu comigo — eu não tinha uma amiga chamada Sarah que fugiu e não conseguiram encontrá-la. Mas eu tinha amigos que se sentiam perdidos e eu queria ajudá-los, e também me identificava com o sentimento de não ser capaz de me encaixar em minha família. Eu acho que estava pensando no que minha família estaria sentindo se eu desaparecesse. E eu tinha uma amiga no colégio de quem eu gostava muito, nós éramos como irmãs — eu tinha muito amor por ela, e ainda tenho. E então eu coloquei esses sentimentos na música também. É como uma mistura estranha de um monte de coisas que realmente se encaixam perfeitamente nesse universo.” Rings a Bell “Esta música foi outra que eu escrevi no Notas do meu iPhone há anos atrás e disse ao Oscar que queria criar algo que tivesse um swing — como ‘Everybody Wants to Rule the World’, do Tears for Fears, ou ‘The Way You Make Me Feel’, de Michael Jackson. E Oscar me disse, ‘Oh, vai ser muito difícil fazer de um jeito que isso fique legal’. E eu falei, ‘Apenas tente!’ E de fato ele tentou. Quando chega o refrão, de repente você tem toda uma percussão e é realmente impactante. Em relação à letra, é uma das músicas mais alegres do álbum. É mais sobre nostalgia e paixão, escrita a partir da perspectiva de alguém — eu, eu acho! — que conhece uma pessoa pela primeira vez e sente uma esperança e uma possibilidade de que a relação possa evoluir.” June Gloom “Esta música tem um pouco de soul; encontramos um loop de bateria muito legal para ela. Ela tem muito sarcasmo — até o nome ‘June Gloom’ é meio que zombando de si mesma. Imaginei-a sendo escrita da janela do meu quarto, olhando para a rua, para um monte de jovens interessantes fumando e flertando uns com os outros... e eu sem poder participar de nada, presa na cama e meio que tirando sarro de toda a situação.” Love Me Wrong (feat. Troye Sivan) “Troye tuitou sobre [meu single de 2015] ‘Bitch’ antes mesmo de ele se tornar músico, quando era só conhecido como youtuber. Eu mandei uma DM para ele, e ele estava trabalhando com música, então eu pensei, ‘A gente podia tentar escrever juntos’. E então Leland — também conhecido como Brett McLaughlin, hoje um compositor de muito sucesso — foi quem colocou todos nós juntos em uma sala, e o resto é história. Eu componho para Troye há anos — escrevi metade das músicas de Blue Neighbourhood e de Bloom. Com ele, nunca tem pressão para parecer com o que está tocando no rádio, o que geralmente acontece quando você está compondo para outro artista em Los Angeles. ‘Love Me Wrong’ foi de fato originalmente composta para um filme em que Troye participou e que no final, acabou não sendo usada, mas eu fiquei muito apaixonada por ela desde o dia em que a compusemos em 2017. Naquela época, ela era muito diferente do álbum em que eu estava trabalhando, Super Sunset. Mas então, quando Cape God começou a tomar forma, eu pensei, ‘Oh, ela tem que estar nele’. Eu sabia disso desde o começo — tematicamente ela se encaixa totalmente. Quando a escrevemos, eu estava realmente me conectando com os mesmos sentimentos, mesmo que não soubesse que estava prestes a fazer um álbum sobre eles.” Super Duper Party People “Eu nunca tive uma música como esta. Eu a toquei antes de ela ser lançada e ela se destacou no meu set! Ela não foi escrita especificamente para Cape God. Meu namorado e eu estávamos tirando onda no carro voltando de Niagara para casa — e ele disse: ‘Você deveria escrever uma música chamada ‘Super Duper Party People’. Eu falei, ‘Oh, meu Deus, amei isso!’—, mas depois acabei deixando isso para lá. Então, um ano depois na Dinamarca, em uma viagem que fiz para escrever, eu estava ouvindo meu iTunes no modo aleatório, e de repente, rola um loop que Ollie Goldstein havia me mandado, e eu me liguei, ‘Oh, meu Deus! Esta é ‘Super Duper Party People’.’ Eu estava falando com o meu namorado no Skype naquela noite, com um forte jet lag. Nós riamos muito, e eu escrevi um rap inteiro a respeito disso, e esses são os versos. Julius, o cara que gerencia o estúdio na Suécia, veio fazer os vocais de backup, e isso me inspirou a cantar de um jeito mais sueco, como ‘supa doopa!’ Esta música me traz muita alegria.” Susie Save Your Love (feat. Mitski) “Descobri o trabalho de Mitski há alguns anos e fui instantaneamente golpeada. Ela tem uma voz tão singular, tão autêntica, tão triste, tão relacionável. Mitski está dando um tempo da indústria da música no momento — ela não está nas redes sociais, não está em turnê. E então, quando eu pedi para ela cantar nesta faixa, ela me disse: ‘Eu amo muito essa música, mas agora estou dizendo não a todas as colaborações’. Mas aí um dia eu estava voando para algum lugar e quando aterrissei, havia um texto de Mitski dizendo: ‘Ei, sem pressão, mas se você ainda quiser que eu faça a participação na música, acho que gostaria de fazê-la’. E eu fiquei super feliz, ‘Oh, meu Deus, sim!’. Ela realmente não faz colaborações, então me sinto muito honrada. ‘Susie Save Your Love’ é uma música sobre estar apaixonado por sua melhor amiga e ela está namorando um cara de quem você não gosta — você sabe que ele não a trata bem, e você só quer protegê-la.” Life of the Party “Esta é uma das últimas músicas escritas para Cape God. Ela é baseada na ideia de estar em uma festa ou em um ambiente social completamente embriagado, a ponto de sair da sua concha e sentir pertecendo no grupo. Mas, ao mesmo tempo, há uma parte de você — mesmo nesse estado — que sabe que você não pertence e que na verdade você está sendo ridicularizado. Não é como se tudo o que eu disse na música tivesse acontecido comigo. Eu fui longe demais — tipo, há implicações de agressão sexual. Mas eu não acho que exista uma música como esta agora, e eu queria escrever algo para quem foi colocado nessa posição, de ser chutado, aproveitado quando já estava deprimido. Também há um pouco de alegria nela, o que a torna ainda mais complicada. Eu definitivamente tive a sensação de que era, algo do gênero ‘Estou me destruindo completamente aqui... mas pelo menos estou sentindo alguma coisa’.” Madame X “Esta música foi escrita com uma das minhas compositoras preferidas de Los Angeles, uma colega canadense chamada Simon Wilcox — ela compôs ‘Jealous’ para Nick Jonas. Ela é uma das únicas compositoras de Los Angeles que me acompanha nas composições das letras. É uma música sobre cantar para a sua droga preferida: ‘Entre no meu quarto comigo e me envolva / Adoro o seu toque / Entre no meu quarto comigo e faça com que minha mente pare / Eu penso demais.’ Trata-se de ser segurado nos braços da sua droga do momento. Também colocamos muitas imagens da Costa Leste lá. Eu me vi na água gelada de Cape Cod — ou Cape God, devo dizer — e me sentia muito bem, mesmo que meu corpo estivesse congelando.” Learning in Public “Esta música é quase escrita a partir do meu estado de espírito atual, todos esses anos depois, tendo passado por tudo e me tornado uma mulher mais confiante. O processo de compor a música foi terapêutico — eu era capaz de refletir e simpatizar com o meu aspecto mais jovem e dar a ela uma voz. Isso foi uma coisa muito libertadora de fazer por mim mesma. Estou dizendo: A vida é falha, eu sou falha. Eu ainda estou aprendendo. Eu aprendi muito, mas tenho muito mais a aprender.”

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