a trilha de volta

a trilha de volta

Com um caminho trilhado na música gospel, Tiago Arrais decidiu explorar novas aventuras em seu álbum de estreia, A Trilha de Volta. “Quero falar com pessoas que não estão preocupadas com religião apenas, mas também com coisas do dia a dia”, conta em entrevista ao Apple Music. “Comecei a escrever sobre assuntos diferentes do que eu havia falado antes, e tive vontade de cantar sozinho”, diz ele, que também é parte da dupla Os Arrais, com o irmão André. A ideia inicial de Arrais era juntar áudios gravados no celular e, a partir deles, compor músicas para um álbum. Foi quando ele encontrou Isaiah Beard, da Baerd Music. “Achei incrível o jeito como ele cantava e fazia os arranjos. Escrevi para ele, que me respondeu e decidiu fazer a loucura de produzir um álbum em português”, relembra. “Ele não entendia as letras, e eu tive que traduzir tudo.” A inspiração para o novo álbum, segundo Arrais, veio da família. “Eu fiz para marcar este momento da minha vida, com as crianças crescendo, meus pais e eu envelhecendo, e nós tentando lidar com esta fase”, conta. O artista começou a escrever as músicas em 2016, durante o funeral do avô. “Foi ali que caiu a ficha sobre a brevidade da vida e sobre os detalhes de que nós sentimos falta. O que eu mais sentia falta no meu relacionamento com o meu avô era da maneira como ele falava o meu nome. Decidi, então, que gravaria algo para os meus filhos e para a minha esposa, sobre a nossa história, para que eles pudessem ouvir a minha voz falando deles.” A Trilha de Volta aborda temas como lembranças e esquecimento, além de dilemas familiares e problemas do cotidiano. “São minhas questões, mas também podem ser universais”, explica. Arrais espera que o álbum desperte sentimentos nos ouvintes e chegue até aqueles que precisam ouvir uma mensagem de amor. “Se, depois de ouvir as músicas, alguém ligar para o pai ou para a mãe com quem não conversa há muito tempo, vai ser muito significativo e bonito para mim.” A seguir, o cantor conta detalhes de cada uma das faixas de A Trilha de Volta. Mesa “É uma introdução para o álbum todo. Eu ‘ponho a mesa e sirvo a história’. Imagine que eu estou realmente preparando a mesa, reunindo toda a minha família e cantando uma música para cada um. Esta faixa dá o tom para todo o álbum e fala sobre nostalgia.” Medalhas “Esta é sobre o patriarca da família: meu pai. Quando eu mandei esta música para ele, ele não gostou e ainda disse: ‘Por que você está escrevendo essas coisas?’. A faixa fala de quando nós éramos pequenos, das medalhas e das conquistas, e de como nós crescemos achando que grandeza era ser bom no esporte. Tínhamos essa ideia de figura masculina forte, que não mostra vulnerabilidade. Ela fala sobre mostrar quem nós somos de verdade.” Culpa “Nesta faixa, eu peço desculpas à minha mãe. Ela é uma pessoa extremamente afetiva e fala toda hora que ama, dá beijo, escreve. Este álbum não é apenas para os outros, mas é terapêutico para mim também. Não sei o motivo, mas eu nunca correspondi na mesma medida o afeto que recebi dela. Então, diante de todas as experiências de morte na família, entendi que precisava verbalizar o meu afeto. Usei meu lado artístico para dizer isso para ela. Meu pai e minha mãe choraram nesta música. Ela é especial.” Lavoura “Eu escrevi esta música para o meu irmão. Ele também tem filhos e está nesta fase da vida que não sabe o que vai acontecer no futuro. Estamos em uma fase de questionar as nossas escolhas, e eu fiz esta música para lembrá-lo de que ele não está sozinho na lavoura da vida, os frutos vão vir. E também para mostrá-lo que esse trabalho não é em vão e para encorajá-lo a seguir com os sacrifícios que fazemos no dia a dia para a nossa família e para os outros ao nosso redor.” Parte “Este foi o primeiro single lançado, que eu fiz em parceria com o meu amigo Felipe Valente, dedicado à minha esposa. É uma música que fala de onde nós estamos no nosso relacionamento e como o nosso crescimento como casal se deu com honestidade e comunicação. Eu tento ser honesto sobre os meus sentimentos e sobre a loucura que é o amor. Contrário à toda lógica e a todos os sentidos que achamos na vida, você se compromete com alguém em vez de buscar novas maneiras de ter alegrias, paz e liberdade. A história de Ulisses, na ‘Odisseia’, de Homero, foi uma inspiração para mim. No começo da narrativa, ele está em uma ilha com uma deusa maravilhosa. Ele tem tudo o que poderia pedir, mas todas as manhãs esse homem se senta na beira do mar e sente falta da esposa dele. Para mim, isso é uma maneira linda de lidar com a loucura que é o amor.” Vulto “A primeira música que eu fiz para os meus filhos. Basicamente ela diz: ‘Vocês nasceram e eu virei memória’. A vida acabou, eu sou um vulto, porque tudo se torna sobre eles. A letra fala sobre quando eu não estiver mais aqui e que vai ser nesta música que eu vou encontrá-los. Assim, eles podem se lembrar do que eu fiz pelos dois e também ouvir a minha voz.” Lar “Esta faixa não estava nos planos. Eu acabei escrevendo no estúdio. Eram nove músicas, mas ‘Vulto’ ficou tão depressiva que eu decidi escrever uma mais bonitinha para os meus filhos. Esta música vai ensiná-los a lembrar e fala sobre como as memórias são um lar. Mas também lida com a minha culpa em relação às coisas que eu não fiz e que poderia ter feito, porque fico angustiado quando penso que eu poderia ter sido melhor em certos aspectos. Chorei muito quando a criei. Em resumo, é uma aula de como lembrar.” Sinais “Quando você vai chegando à minha idade, você percebe que olhar para trás é a mesma distância que olhar para frente. Você começa a ficar inseguro e sentir medo. ‘Sinais’ se trata disso, do quão rápido eu passei da infância para agora e de como eu quero aprender a deixar que meus medos passem. É uma música de transição sobre o que está acontecendo no meu corpo.” A Grande Beleza “[Esta música escrevi] Para a minha esposa e meus filhos, além de ser uma homenagem ao meu diretor de cinema favorito, Paolo Sorrentino, que tem um filme chamado A Grande Beleza. No longa, o personagem tenta encontrar a grande beleza da vida. O filme mexeu muito comigo quando eu o vi pela primeira vez, por isso pensei que esse seria o título perfeito para a música. É basicamente eu narrando os cantos dos passarinhos, a luz da manhã, o sorriso dos meus filhos, o beijo para dormir, a mesa da cozinha, o nosso jardim. A beleza que está escondida nas pequenas coisas. Esta é uma das minhas músicas favoritas do álbum.” Florescer “Um cartão postal do futuro para a minha família. A primeira música [do álbum] fala sobre colocar a mesa do jantar, e esta fala sobre guardar a louça e colocar as crianças para dormir. Elas conversam entre si. Esta faixa é apenas uma mensagem de amor para a minha família e sobre fazer todo esse amor florescer.”

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