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Quando emergiu do anonimato como uma jovem desajustada de 19 anos, transformando-se em uma estrela do SoundCloud do dia para a noite, Halsey era um enigma: pouco se sabia sobre ela, apesar de ter uma voz reconhecida. “Há uma história sobre mim que diz: ‘Eu não sei como ela é. Não conseguiria reconhecê-la na rua, porque ela parece diferente toda vez que a vejo’”, diz a cantora a Zane Lowe, do Apple Music. “Algumas pessoas entram nesse universo criativo e possuem um estilo bem definido: ‘Isso é o que funciona para mim, isso é quem eu sou e com o que estou confortável’. Para mim, no entanto, só é divertido se eu me reinventar. Muitas pessoas percebem isso e acham que eu não tenho uma noção clara de quem sou.” De certa forma, o primeiro single de seu quinto álbum de estúdio mostra que ela continua sendo difícil de definir. “The End”, uma balada folk acústica, coproduzida por Alex G e Michael Uzowuru, aborda preocupações de saúde que Halsey mantinha em segredo. The Great Impersonator (2024) é vulnerável de uma nova maneira, usando o conceito de tributo ou de homenagem como uma lente pela qual ela se inspirou para compor — daí vem a série de fotos que ela divulgou antes do lançamento do álbum, nas quais posava como David Bowie, Aaliyah, Kate Bush e mais. “Conforme envelheço, percebo que adoro cada vez mais escrever sobre mim mesma. Mas também acho entediante falar sobre mim”, explica. “Essas reinvenções me oferecem pequenos momentos de escapismo — não no sentido de fugir, mas para contar uma história de uma maneira diferente.” Temas de identidade, mortalidade e legado permeiam as 18 músicas do álbum, que mescla folk dos anos 70, baladas dos anos 80, rock alternativo dos anos 90 e pop dos anos 2000, culminando na década em que Halsey despontou. Em alguns momentos, ela reflete sobre sua própria natureza temporária; em outros, anseia pela despersonalização: “I think that I should try to kill my ego/ ’Cause if I don’t, my ego might kill me” [em tradução livre: “Acho que devo tentar matar meu ego/ Porque, se não o fizer, meu ego pode me matar”], ela anuncia em “Ego”, faixa inspirada em PJ Harvey. “Hometown” é uma ode a Dolly Parton, com uma pegada à la Bruce Springsteen, especialmente em sua representação dos sonhos americanos desbotados. Em “Lucky,” ela faz referência ao hit de Britney Spears com o mesmo nome, uma das grandes baladas pop sobre os efeitos da fama. “Fiz 20 anos quando BADLANDS foi lançado e estou fazendo 30 agora, com o lançamento deste álbum”, diz Halsey, refletindo sobre o arco da própria carreira. “Eu tinha um plano de dez anos, mas não pensei em nada além disso. Não tinha ideia do que iria acontecer.” Embora não saiba para onde a vida a levará nos próximos dez anos, ela está mais focada em apreciar a jornada do que se apressar em direção à linha de chegada. “Costumava olhar para a forma como SZA ou Frank [Ocean] gravam e pensava: ‘Nunca conseguiria passar dois ou três anos em um álbum. Sou tão impulsiva e impaciente, só quero terminar’”, ela admite. “Então passei muito tempo escrevendo este álbum e entendi pela primeira vez: uau, o processo é a melhor parte.”