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Como acontece com boa parte da ficção científica, as qualidades futuristas do álbum de estreia de Jimi Hendrix – seu uso sem precedentes do harmônico na guitarra, do barulho e da imagem – são equilibradas com uma certa familiaridade. Hendrix não estava fazendo experimentos com a música erudita moderna como os Beatles ou com a orquestração pop de alto nível dos Beach Boys; ele não estava nem tentando brincar com a psicodelia como o Pink Floyd. Em vez disso, ele pegou as sonoridades simples e viscerais das músicas de Little Richard e Muddy Waters que cresceu ouvindo e as transformou em algo novo, prenunciando a psicodelia negra de Prince e Outkast, sem mencionar quase tudo com pegada blues que surgiu no seu rastro. De todos os inúmeros álbuns santificados que nasceram no fim dos anos 60, Are You Experienced (1967) é um dos poucos que ainda soa como uma coisa viva e dinâmica. No mínimo, dá para dizer que o conceito de faixas melodiosas com pouco mais de três minutos de duração e distorcidas com efeitos sonoros é uma definição tão apropriada para o pop do século 21 quanto era para a música de Hendrix de 50 anos atrás.