Orí Okàn

Orí Okàn

O nono álbum solo de Iara Rennó é como um banho de mar. Inundado pelo candomblé, é considerado pela artista o “irmão” de Oríkì, projeto antecessor indicado ao Grammy Latino em 2022. “Orí Okàn significa cabeça e coração em iorubá. Na sonoridade, eu quis passar uma sensação de acolhimento, de útero, com menos instrumentos e mais simplicidade”, explica a cantora e compositora ao Apple Music. “Este álbum vai tocar as pessoas de maneiras diferentes, dependendo do grau de conhecimento ou da relação que elas têm com as religiões de matriz africana. Mas a música tem o poder de emocionar, mesmo que você não entenda um idioma ou o que está sendo dito ali”, diz a artista, filha da cantora e compositora Alzira E, que integrou a vanguarda paulistana nos anos 70 e 80. A seguir, Rennó, que também assina a produção musical e a direção artística do álbum, comenta cada uma das faixas de Orí Okàn: Iemanjá “É uma releitura, a única [faixa] da qual não sou autora. É uma reinterpretação de uma música da Serena Assumpção [cantora e compositora, filha de Itamar Assumpção, falecida em 2016] que está no álbum Ascensão (2016). Ela era minha amiga de infância, tínhamos uma relação de proximidade. Interiorizei a música, processei-a dentro de mim e coloquei-a para fora com o meu jeito de tocar violão e de cantar. Eu queria que ela fosse simples e intimista, só violão e Rhodes [marca de piano elétrico].” Orí Axé “Me emociona muito. É uma coprodução minha com a Anelis Assumpção [irmã de Serena] e tem a participação deste coral incrível que é o Negresco Sis [com Céu, Thalma de Freitas e Anelis].” Oyá Mesan “É uma das faixas mais antigas. Tem a coprodução da Maria Beraldo, uma artista que admiro muito, produtora e arranjadora. Também traz o Gabi Guedes na percussão, que é ogã do Terreiro do Gantois, em Salvador, e que trouxe a bênção de compor o toque para o orixá, o toque de Iansã.” Oluayê “Este é um outro nome para Obaluaiê, ou Omolu, que é um orixá que se veste todo de palha. Convidei o Zé Manoel [cantor e pianista baiano] para participar, porque ele já tinha um enredo com esse orixá, então era ideal para entrar nesta música. Somos só eu e ele. Voz, piano e violão, com algumas camadas. Foi a primeira vez que cantamos juntos, ele tem uma voz especial, trouxe uma timbragem única.” Chamado de Oxumarê “A [cantora, compositora e instrumentista] Karina Buhr, além de ser uma amiga antiga, tocou percussão no show do meu primeiro álbum solo [Macunaíma Ópera Tupi, de 2008]. Tivemos muitas trocas ao longo dos anos, também porque a gente faz parte da mesma casa e família de axé. De certa forma, foi por causa dela que fui parar lá.” Baragbô “É o nome do nosso terreiro, eu fiz para ele. Quando eu canto ‘Ilê Àse Opó Baragbo / Me leva que eu vou’, é justamente sobre a linhagem que vem do Aganju e ‘que vem do Afonjá’, como diz na música. Tem a participação do coro do nosso terreiro, composto por Karina Buhr, Max BO, Suelen Araújo e Gilvan Silva. Eles são pessoas importantes da minha família de axé.” Stella Estrela “Moreno Veloso tocou violoncelo aqui, e ficou lindo. Eu fiz [a música] em homenagem à Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, que faleceu em 2018. A composição surgiu logo após a partida dela. Somos da mesma linhagem familiar, já que o meu terreiro vem do terreiro dela.” Logun “Foi a primeira vez que o Moreno Veloso cantou comigo em um registro fonográfico. Ele é muito ligado ao candomblé, e Logun é o orixá dele. É significativo para mim, ele produziu uma faixa do meu primeiro álbum solo e depois produziu o álbum Iara (2013). É um parceiro de longa data. A gente está sempre trocando ideias e vivenciando esta espiritualidade também.” Deixa Lá (Um Defeito de Cor) “É uma música dedicada a Oxalá e também coproduzida por Tiganá Santana. Ele direcionou a faixa para esse espaço puro das vozes, que é o lugar do ar que flutua, do hálito e do ambiente do Oxalá. Quando eu canto ‘Carrego a herança do branco / De sexta a sexta / Trago comigo esse santo / Cobrindo-me a cabeça / Como uma benção um manto / Onde quer que eu vá’, eu não falo da raça branca, e sim da família dos orixás funfun, que significa ‘branco’. São alguns dos orixás mais antigos, que cito no final da música: ‘Oxalufã / Oxaguiã / Obatalá / Orixá N'la’.” Ogyan “Também tem a participação do trio Negresco Sis. É uma homenagem a Ogyan, que também é um orixá da família do branco. Oxaguiã é o nome completo.” Orí Okàn Cici “É muito especial para mim. Foi um presente ter a participação da Ebomi Cici, mestra griô, contadora de histórias e conhecedora profunda da mitologia e da cultura iorubá. Sua fala tem tudo a ver com o nome do álbum: ‘Que a cabeça tenha calma. Pense com o coração’.”

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