Como jovem músico a serviço da aristocracia, esperava-se que Johann Sebastian Bach aprendesse as danças da corte francesas da época. Não se sabe se ele chegou a dominar os passos complicados dessas coreografias, mas, como o maestro John Butt sugere, as quatro Orchestral Suites – apresentadas neste álbum – mostram como Bach absorveu o seu gestual. “Essas peças demonstram muito claramente que Bach estava tão interessado no movimento físico quanto na música para ‘cérebro e ouvido’, pela qual ele é tão conhecido”, diz Butt ao Apple Music.O maestro e o seu Dunedin Consort, conjunto escocês de instrumentos de época, resgatam o clima francês das suítes de dança de Bach, destacando a combinação de grandeza e elegância com energia rítmica irresistível. A rapidez de Butt reflete as demandas práticas de uma courante ou um minueto, quase impossíveis de dançar em um ritmo muito lento. Até mesmo as peças mais conhecidas dessa série – a “Air” da Nº 3, a “Badinerie” da Nº 2 e a “Ouverture” da Nº 4 — soam novas e espontâneas.“Tentamos mostrar a sutileza da simplicidade de cada dança, mas também mostrar a simplicidade do virtuosismo característico das aberturas de cada suíte”, explica Butt. E o Dunedin Consort cumpre muito bem a tarefa, como fez no eloquente álbum Six Brandenburg Concertos (2013), de Bach.É impossível ficar parado com estas apresentações ou ignorar o que Butt chama de mudanças de “passos” e a “disposição” da música de Bach. “Existem muitas gravações dessas peças e de danças barrocas em geral, mas tentamos explorar especificamente os diferentes climas, andamentos e aspectos emocionais de cada tipo de dança”, diz ele.Com um talento sofisticado para as suítes francesas de Bach, o Dunedin Consort leva o ouvinte de volta a uma época em que música e movimento eram inseparáveis. Como observa Butt, a sequência de danças “faz com que a gente identifique ritmos e estruturas semelhantes em outras obras de Bach, até mesmo naquelas que foram compostas para a devoção”.