O Pink Floyd ficou conhecido não apenas pelo que ajudou a popularizar (produção imaculada em alta fidelidade, álbuns conceituais elaborados e shows com muito laser), mas também pelo que negaram: sua misteriosa estética provou que a música não precisava de astros pop na frente das câmeras para criar um dos grupos mais famosos da história do rock. Uma ironia, já que, inicialmente, a banda foi liderada pelo carismático Syd Barrett, cuja genialidade excêntrica deu origem à psicodelia do álbum The Piper at the Gates of Dawn, de 1967. Depois do comportamento errático do vocalista e guitarrista culminar com sua demissão, um ano depois, o Pink Floyd passou a trilhar um rock-espacial enigmático sob o comando das linhas de baixo propulsoras de Roger Waters, os teclados etéreos de Richard Wright, a tensão precisa da bateria de Nick Mason e a guitarra profundamente emotiva de David Gilmour, que substituiu Barrett. Álbuns como Ummagumma e Meddle deram o pontapé inicial na era do rock progressivo com suas composições arrastadas e de longa duração que, futuramente, se tornariam influências vitais de movimentos indies como o pós-rock e o doom metal. Mas com a chegada de The Dark Side of the Moon, em 1973, o Pink Floyd deixou de ser restrito aos nerds musicais do underground. Aproveitando a estética exploratória do grupo em um ciclo contínuo de músicas, o álbum passou 14 anos seguidos nas paradas da Billboard. Sua sonoridade virou um marco da excelência do trabalho técnico de estúdio, algo perseguido por bandas modernas como Tame Impala. O pioneirismo da banda no uso de ambientações eletrônicas influenciou até artistas da dance music do quilate do Daft Punk. Dark Side foi também o disco que trouxe a voz e as ideias de Waters à superfície com críticas à sociedade britânica tão contundentes quanto qualquer coisa vinda dos punks que detestavam o Pink Floyd. A visão de Roger Waters tornou-se cada vez mais primordial com a sequência de obras clássicas que exploravam perdas pessoais (Wish You Were Here, de 1975, uma espécie de tributo a Barrett) e estruturas políticas de poder (Animals, a parábola Orwelliana de 1977), culminando na ópera-rock colossal de The Wall (1979). Com ela, o Pink Floyd conseguiu seu primeiro single no topo das paradas com “Another Brick in the Wall Pt. 2”, mas o álbum confirmou a tendência do grupo em criar caminhos acessíveis para trabalhos mais densos e exigentes. . Waters continuou a exercer controle criativo na banda até sua saída, em 1985. Os integrantes remanescentes continuaram a levar o nome do grupo durante os anos 90. O Pink Floyd ainda se reuniu com Waters para uma apresentação durante o Live 8, em 2005. Porém, com a morte de Wright, vítima de câncer, em 2008, Gilmour e Mason lançaram The Endless River, em 2014, álbum que colocou fim à carreira de uma das bandas mais inovadoras e tumultuadas do rock.