A soul music brasileira tem pai e não é necessário exame de DNA para saber de quem se trata. Seu nome é Tim Maia, que também já foi conhecido como Jimmy, The Brazilian e até O Síndico. Após a experiência na juventude perambulando pelas ruas pulsantes e quentes da zona norte do Rio de Janeiro, Sebastião Rodrigues Maia soube o que fazer ao voltar de Nova York, trazendo na bagagem uma soul music que, com ele, ganharia sotaque carioca. Retornar deportado ao Brasil em 1964 foi um baque, porque, enquanto os amigos de adolescência Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Jorge Ben tocavam nas rádios e brilhavam na TV, Tim vivia como guia turístico. Nos EUA, ele viu a efervescência da Motown, assistiu a shows impactantes, aprendeu inglês, fundou o grupo The Ideals e virou Jimmy, The Brazilian. Quando finalmente conseguiu gravar, emendou quatro álbuns aclamados em sequência, entre 1970 a 1973, todos com o mesmo nome: Tim Maia. Neles estão músicas fundamentais como “Primavera (Vai Chuva)”, “Você” e “Gostava Tanto De Você”. Os trabalhos também apresentavam o sotaque brasileiro na mistura, tal qual o forró “Coroné Antônio Bento”, incluído no álbum de estreia. A fase seguinte foi mágica em termos musicais. De 1974 a 1976, Tim esteve próximo da organização religiosa Racional Superior e compôs álbuns psicodélicos e classudos (Racional, Vol. 1, Vol. 2 e Vol. 3), usados como samples por artistas do hip-hop, caso de Rappin’ Hood em “Rap Du Bom”. Sempre buscando novas possibilidades musicais, o cantor explorava novos gêneros a cada fase da carreira. Após ser “Racional”, aproximou-se do som das discotecas nos anos 80, e, mais tarde, assumiu-se cantor romântico. Tim Maia gostava tanto de estar no estúdio que, frequentemente, o filho e herdeiro Carmelo Maia encontra novas música e versões inéditas, mesmo anos após a morte do artista, em 1998, aos 55 anos, como músicas em espanhol reunidas em 2021 no álbum Yo Te Amo. Tim Maia era conhecido pelo gênio forte e pelo alto nível de exigência. Para quem lutou tanto para ter o sucesso, é até compreensível. Tim era uma força da natureza.