O pianista Sviatoslav Richter passou a ser conhecido por sua técnica ousada em 1958, com a gravação ao vivo de Pictures at an Exhibition, de Mussorgsky, que até então era considerada uma obra quase impossível de tocar. Isso aconteceu dois anos antes de as autoridades soviéticas permitirem que ele se apresentasse fora do bloco dos países comunistas. Richter nasceu em 1915, no noroeste da Ucrânia, e era basicamente um autodidata – fora algumas aulas do pai – quando se tornou repetiteur (profissional responsável pelos ensaios) da Ópera e Balé de Odessa. Ele se apresentou pela primeira vez em público em 1934, interpretando Chopin, antes de estudar no Conservatório de Música de Moscou com o professor Heinrich Neuhaus. Em 1940, fascinado com a estreia da Sonata Nº 6, de Prokofiev, Richter se tornou um grande entusiasta do compositor – em 1943, ele estreou a Sonata Nº 7, obra que aprendeu a tocar em apenas quatro dias. Obras de Bach, Mozart, Schubert, Chopin, Schumann e Liszt também foram fundamentais para o repertório do pianista, que incluía também peças de Britten, Berg e Webern. E ele continuou ampliando o seu repertório até o fim da vida, como na apresentação genial do Concerto para Piano, de Gershwin, em 1993. Ainda que Richter parecesse estar mais à vontade com a música do que com o público, seus álbuns revelam uma interpretação com autenticidade e simplicidade incomuns, apesar do seu evidente virtuosismo. Muito reservado, ele concedeu uma rara e reveladora entrevista ao documentarista e violinista francês Bruno Monsaingeon pouco antes de morrer, em 1997.