Ultraleve

Ultraleve

O rapper Edgar Pereira da Silva, também conhecido como apenas Edgar, nasceu e cresceu na favela do Coqueiro, em Guarulhos, São Paulo. Descobriu o seu amor pela música ainda adolescente, ouvindo os discos de vinil do pai. As primeiras composições vieram cedo também, escrevendo letras próprias aos 15 anos. “Meus amigos da época faziam muito rap ‘freestyle’, e comecei a acompanhá-los, mas eu não tinha tanto ‘flow’, então fazia uma coisa mais falada, por isso me chamavam de ‘palestrinha’”, conta o rapper ao Apple Music. Edgar não quis ceder ao bullying que sofria e começou a estudar música: “Entrei em um curso de percussão e foi essencial para eu ter noção de tempo, silêncio, staccato, métrica, levada, ritmo, etc. E isso ampliou minha cabeça. Hoje eu brinco de tirar onda e faço cadência de samba, brinco com o contratempo”. Mesmo com toda a sabedoria adquirida com o estudo e com o tempo, o músico continua a dar importância às palavras. “Aprendi a ter esse domínio musical, mas gosto muito do falado, pois acredito que resolve muitas coisas.” Ultraleve, o segundo álbum da trilogia que se iniciou com Ultrassom (2018), chega finalmente para o público. Desta vez, o trabalho não foca apenas na música eletrônica a qual já estamos acostumados, mas conta também com instrumentos produzidos pelo próprio Edgar. “Comecei a construir a partir de latas que eu achava na rua, além de objetos com valor afetivo para mim, como itens de amigos e familiares. Então, tem coisas muito simbólicas e importantes para mim, que incorporaram quase que misticamente seus timbres, e eu consegui passar essas memórias, esse afeto e esse amor por meio do timbre de um instrumento que era inexistente e foi criado. Existem coisas que acontecem durante o processo que acabam sendo mais importantes do que o resultado.” A peculiaridade na criação dos instrumentos torna Ultraleve bastante singular, e Edgar entende essa característica de maneira positiva, afinal “é uma coisa única” para o rapper, que revela ter “despejado bastante conceito” durante a produção do álbum que levou dois anos. “Muita coisa foi feita enquanto já acontecia a pandemia do coronavírus, o que também mudou o rumo de algumas ideias. Com a chegada do isolamento social, algumas letras surgiram e eu também revisei outras já existentes, adequando para o momento”. Dessa ideia de adaptação também vem o nome Ultraleve, pois Edgar acredita que estamos em um momento muito pesado, “então quis colocar um outro peso na balança, mais leve”. Abaixo, o rapper conta detalhes e curiosidades de cada uma das faixas de Ultraleve. Manifesto do Azulejo “Ela é uma faixa bem especial, gosto muito. Vem de uma ideia de criar um manifesto mesmo, uma proposta de manifesto artístico, arquitetônico, urbanista, inspirado até num artista austríaco que desenvolveu um conceito de cinco peles: primeiro é a pele do corpo, depois é a roupa, seguida da casa, do automóvel e por fim, o mundo. E nisso ele começa a fazer artes nudistas, depois ele vira alfaiate, depois vira arquiteto, é fantástico. Então, pensando se eu fosse ele, apliquei esse conceito na música. Eu penso que as pessoas não deveriam ter azulejos em casa, elas deveriam quebrar o azulejo e deixar a terra entrar.” Também Quero Diversão! “É uma faixa que é um resgate das minhas memórias de funkeiro, dos bailes funk de Guarulhos, da favela do Coqueiro. Ela tem dois anos e, quando aconteceu a chacina de Paraisópolis, ela já existia. Essa faixa ainda tem um clima meio do Ultrassom, algo meio apoteótico, que as coisas podem acontecer, como um presságio, em que a favela está sendo invadida e o som está tão alto que a gente não consegue escutar.” Saia da Máquina “Essa música eu acho que tem bastante ‘easter egg’. Ela fala sobre essa mudança de comportamento, de profissões, de ter que se reinventar no meio de tudo isso. Ela é a mais rap do álbum, mas eu tentei deixá-la mais tecnológica.” Sem Medo “É o Edgar cantor, dos anos 70, funk soul, chorando os problemas do mundo. Eu amo essa música.” A Procissão dos Clones “Essa faixa é legal porque tem a participação da Elisapie, fantástica, uma inuíte, ativista pelos direitos das mulheres e tudo mais. Foi muito legal trazer tudo isso para cá.” Mentes Mirabolantes “Essa faixa foi total composta durante a pandemia, quarentena, isolamento... Ela é uma música que tenta dar uma injeção de esperança, um ‘vai passar’, ‘eu vou sambar na sua cara’, ‘vou me dar bem, vou sair dessa’. É uma música que visa quebrar o vidro que as pessoas estão criando em volta delas, com esse medo de sair na rua, essa síndrome de pânico e várias outras síndromes que estão aparecendo.” A Teologia da Violência “Uma faixa mais divertida e subliminar do álbum, ela não é tão direta assim, pois tem uma capacidade sinestésica de – se fechar os olhos e se permitir – você ser transportado para essas paisagens que estou cantando.” O Último Peixe do Mundo “Essa é a música de que eu mais gosto no álbum, a que mais gostei de fazer. Ela tem esse início meio apocalíptico, mas não é: tem uma fagulha de esperança também. Ela é uma terapia, é para ser uma terapia. Tem uma reviravolta no fim também para poder fazer essa proposta, além de uma pegada rap gospel.” Que a Natureza Nos Conduza “Essa é uma limpeza, uma pajelança, é um trabalho de libertação. É um recado do planeta terra para nós, seres humanos.”

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