Tetein

Tetein

Logo após ganhar o Grammy Latino de melhor álbum de rock em língua portuguesa por Derivacivilização (2015), Ian Ramil já iniciava os preparos do seu terceiro projeto, Tetein (2023). As gravações aconteceram entre 2018 e 2020, mas, em seguida, o mundo parou. “Eu terminei o álbum um pouco antes do início da pandemia [de covid-19], mas preferi não lançar à época porque queria ter a possibilidade dos shows. Utilizei esse período para aprimorar a mixagem e dar mais atenção aos detalhes e às minúcias. Isso também trouxe um frescor ao álbum”, explica Ramil ao Apple Music. Inspirado pelo nascimento da primeira filha, Nina, em 2016, Ramil aborda o imaginário infantil e a distopia contemporânea em Tetein. “Estou convivendo com esses dois mundos. O da fantasia e o da realidade, com o qual em breve a Nina vai se deparar”, diz o artista. O álbum explora silêncios e prioriza arranjos de cordas, beats e percussões, junto a manipulações sonoras e eletroacústicas. A seguir, Ramil revela detalhes das músicas do álbum: Tetein “Tem um ar pop e leve, amoroso. Não tem repetições, mas traz a impressão de ter um refrão mesmo assim. É bem pessoal, mas ao mesmo tempo palpável. Acho que todo mundo já explodiu de satisfação com o cotidiano em algum momento. ‘Tetein’ é uma palavra que a minha filha inventou para se referir às coisas pequenas. É esse universo do essencial e da delicadeza que norteia o álbum.” Canção de Chapeuzinho Vermelho “Eu aproveitei o trecho de um vídeo que fiz com a Nina cantando esta música no estúdio. Depois eu usei uma parte dela para fazer a introdução de ‘Macho-Rey’, mas acabei também transformando-a em uma vinheta.” Macho-Rey “Resultou no clipe mais produzido da minha carreira até hoje. Foi muito bem realizado pelo pessoal de cinema de Porto Alegre [o clipe foi dirigido pelo cineasta Davi Pretto e conta com a participação da jornalista Eliane Brum]. Eu tinha o riff dela guardado, mas só fui incluir a melodia um ano depois. Mais tarde encontrei a [cantora] Juliana Cortes, durante a produção do álbum dela, e mostrei a música incompleta. No fim, ela deu a ideia do refrão e acabou gravando [em Juliana Cortes, 3, de 2020]. Depois a [cantora] Duda Brack também gravou [em Caco de Vidro, de 2021]. Eu fui o último a lançar a minha versão.” Cantiga de Nina “Eu fiz a música quando a Nina tinha um mês. Ela estava naquelas crises de choro de bebê. Eu cantei esta música para ela se acalmar e acabei gostando, soou um pouco como uma cantiga popular. Gravei no celular na hora mesmo e continuei cantando para ela em outros momentos. Fala sobre relaxar e dormir, pois amanhã é outro dia.” O Mundo É Meu País “Eu estava lendo um livro de entrevistas da Ariane Mnouchkine, diretora francesa, fundadora do Théâtre du Soleil. E a jornalista perguntou a ela por que suas peças retratavam histórias de países longínquos. Ela respondeu algo do tipo: ‘Eu me sinto parte da humanidade. Tudo o que acontece com a humanidade me compadece’. E eu fiquei com isso na cabeça, de que ‘toda a história era minha história’. No dia seguinte, Luiz Gabriel Lopes [músico e compositor mineiro] me mandou uma melodia, sugerindo que a gente fizesse uma música. E no fim a composição dele ficou perfeita em cima dessa letra que eu já tinha. A gente começou criando à distância, mas depois se reuniu para finalizar.” Lego Efeito Manada “Como compositor, particularmente, eu fiquei bem satisfeito com esta música. A harmonia e a melodia ficaram sofisticadas, com caminhos bem particulares. Veio a partir de um esboço do Poty [Burch], que é meu parceiro em várias composições, e ele acabou cantando comigo.” Mil Pares “Eu tinha feito esta composição para a Duda Brack, mas ela acabou não gravando. Partiu de um estudo. Eu nunca tinha trabalhado com beats, então eu construí esse universo rítmico de forma bem artesanal e orgânica, sem muitas repetições. É um dos arranjos de que eu mais gosto no álbum. Ela começa com o som do primeiro ultrassom da Nina, são as batidas do coração dela.” O Bichinho “Sinto que é a música mais importante do álbum. Surgiu quando eu percebi que tudo o que eu estava fazendo tinha influência da chegada da Nina na minha vida. Ela tinha uns quatro meses, e eu estava cuidando dela quando a música saiu. É bem simples e singela.” Teletransporte “Eu fiz a melodia e a harmonia mais ou menos em 2009. Sempre achei bonitinha, estilo Beatles, meio Paul McCartney. Em uma tarde com a Nina, em 2017, estávamos brincando e havia um sol bonito na janela. De repente, meio sonolento, senti que eu estava em Rosário do Sul (RS), na minha infância, no meio da minha família. Desde de que a minha filha nasceu, essas voltas ao passado têm sido mais recorrentes. Às vezes, uma iluminação, um cheiro, sensações assim, fazem a gente sentir esse teletransporte. Palavras-Vão “É a mais antiga do álbum. Foi composta no período em que eu conheci a Laura [Laura Gastaud, esposa de Ramil e mãe de Nina], há uns 11 anos. Mas ‘Palavras-Vão’ nunca tinha se encaixado nos meus projetos anteriores. Ela se tornou um respiro no desenho do Tetein. Ela te leva para um lugar de suspensão. Tem captações de vozes que eu fiz no meu quarto, com ambiência de rua. Também há trechos de improviso da banda que tocou no [álbum] Derivacivilização.” Homem-Bomba    “Esta é mais uma parceria com o Poty. Ele chegou com ela quase pronta, letra e melodia. Depois incluímos juntos a segunda parte. Ele acabou gravando-a também [no álbum Percepção, de 2018]. Tem um movimento mais sinuoso no final. É um momento do álbum em que, depois de passar por respiros e universos oníricos, a gente volta para a realidade da vida.” Cantiga de Nina II “Criei-a em casa, viajando em ‘I Never Learnt to Share’ [2011], do James Blake. Não quis colocar junto com a ‘Canção de Nina’, porque acho que tem uma peculiaridade. Eu trabalhei muito nela antes de levar para o estúdio. Há três vocais propositalmente estranhos, feitos à capela por mim. Na mixagem, o Ricardo Mosca colocou uns efeitos que a deixaram meio lisérgica.”

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