

Quando questionado sobre o processo de criação de suas músicas, Fernando Jerônimo dos Santos Júnior, o Fernandinho, responde de imediato: a vida o inspira. A sua própria e a de todos aqueles que o cercam. As 15 faixas que fazem parte do álbum Santo (Acústico) são uma profunda amostra dessa afirmação: nelas, ao lado da esposa Paula Santos, o cantor, compositor e pastor evangélico canta sobre a realidade sem filtros – os amores, as dores, as perdas, as vitórias e, é claro, a fé, essa que nos dá esperança de dias melhores e que nos ajuda a seguir em frente nos momentos mais difíceis.
O próprio álbum, gravado durante a pandemia do coronavírus, foi uma demonstração de fé. “Foi um desafio muito grande porque a gente ainda não faz ideia de como vai ser o dia de amanhã. Eu me lembro como se fosse hoje: 12 de março de 2020, eu estava dentro de um ginásio para gravar um DVD, e aí foi decretado o lockdown. Foi uma loucura, e a sensação é que ainda estamos na mesma”, ele conta ao Apple Music. “Então, esse tempo todo depois, veio esse sentimento de urgência: de amar mais, de viver mais, de acreditar mais. Foi assim que esse álbum foi feito. A gente alugou um estúdio e montamos tudo rapidamente, meio de improviso. E falamos: ‘A gente vai ter que fazer isso tudo muito rápido’.”
Com Paula Santos, companheira de 15 anos na música, na igreja e na vida, Fernandinho escolheu produzir o álbum acústico, respeitando essa urgência e dando vida a músicas em que letra e melodia brilham sem adornos. “As músicas do álbum acústico trazem uma textura diferente. Você consegue compreender melhor o que a letra está dizendo, até os arranjos. Ao contrário dos álbuns ao vivo, de show, de palco, daquela adrenalina do momento, as versões acústicas têm uma outra vibe, um outro sentimento. E foi uma experiência sensacional gravar esse álbum, porque você vê aquela composição sendo feita de outra forma, parece que é outra música”, diz o artista sergipano, que vive no Rio de Janeiro com a família.
E, em composições que retratam com tanta fidelidade acontecimentos comuns a todos nós, Fernandinho não se limita ao papel de observador atento (coisa que, por sua natureza empática, ele faz muito bem): o cantor expõe, sem medo, sua própria humanidade, compartilhando momentos difíceis, de desesperança e, também, de superação – do seu reencontro com a fé e com Deus –, como a forma com que lidou com morte da irmã, poeticamente retratada em ‘Eu Vou Amanhecer’, ou sobre a importância de levantar a cabeça e se lembrar de que não estamos sozinhos, como em ‘É Tempo de Abrir o Coração’. A seguir, Fernandinho conta mais detalhes sobre o que está por trás de cada faixa de Santo (Acústico).
O Senhor É Bom (Acústico)
“Essa é uma música muito empolgante. Desde o início, quando a gente começou a traçar os arranjos, ela foi nos surpreendendo. E tem uma parte no refrão que é uma passagem bíblica, muito conhecida no meio cristão: ‘O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que Nele se refugiam.’ Então foi um presente poder unir essa melodia a essa frase tão importante. E essa música é muito pulsante. A gente a tocou poucas vezes por conta da pandemia, mas ela teve um retorno absurdo, logo na introdução já traz uma empolgação. É muito gratificante de ver.”
Santo (Acústico)
“Essa música foi feita em fragmentos, de forma totalmente inesperada. Eu estava nos parques, nos Estados Unidos, junto com os meus filhos, e era aquela correria de ir para a fila com um, fila com outro, espera daqui, espera dali, e começou a vir na minha cabeça a letra, a melodia. Tinha um monte de gente falando, cantando, gritando e, de repente, comecei a pensar em um lance assim meio louco, em um lugar totalmente fora de contexto, sem violão, sem nada. Comecei a imaginar o céu que a Bíblia descreve, com todos os anjos cantando para Deus: ‘Santo, Santo, Santo.’ Aí imaginei esse céu naquele lugar, as pessoas com as mãos levantadas, cantando: ‘Santo’ e reverenciando a santidade suprema que é Deus. E foi assim que essa música começou a ser esboçada. Eu me lembro de mostrá-la para a Paula, minha esposa, ali na fila do brinquedo mesmo, e ela disse: ‘Nossa, que legal, que diferente’. E logo que chegamos em casa, comecei a trabalhar nela. Quando a gente entrou no estúdio, ela ainda não estava completa. Mas, logo nos primeiros acordes, sentimos que se tratava de uma música diferente e começamos a tratá-la como uma obra de arte, trazendo detalhes de cordas, de metais, coral... Fomos colocando esses elementos, e a música foi ficando de uma maneira que a gente realmente não imaginava que fosse ficar. Algo realmente impactante. Quando ela começa a tocar, você vai sendo envolvido pelos acordes.”
É Tempo de Abrir o Coração (Acústico)
“Essa faixa é muito especial pra mim. Estamos num tempo em que a gente tem tantas notícias ruins, liga o jornal e só quer ver uma coisa boa, mas não consegue, aí a gente espera o próximo jornal e as notícias são as mesmas. Um tempo [referindo-se à pandemia] de tantas perdas, dor, desilusão, discórdias, desesperança sobre o futuro em todos os aspectos da vida. E, de repente, me veio a frase: ‘É tempo de abrir o coração e deixar Deus governar nossa vida, e de a gente colocar os nossos olhos em outras coisas’. Então foi assim que essa música nasceu. Desse desejo de abrir a janela e ver outra coisa e dessa tentativa de a gente conseguir cada vez mais ver Deus, se conectar com ele e deixar que ele governe a nossa vida, que ele nos guie. A Bíblia diz: ‘O Senhor é meu pastor e nada nos faltará’. E essa canção abre o nosso coração para que Deus possa nos levar pelos caminhos dele, e não pelos nossos.”
Yahweh (Acústico)
“Essa também é uma música muito especial por causa da simplicidade que está em torno dela. Eu fui passar o som com a banda, coisa que sempre faço e, nesse dia, eu não estava pensando neste nome, ‘Yahweh’, e nem em fazer uma música, mas, quando fui para o microfone apenas para fazer um teste, essa música brotou como se um poço tivesse se abrindo. Ela começou a sair naturalmente. Foi uma grata surpresa, não parei mais de cantar naquela tarde. E, quando a gente foi fazer os arranjos dela, também foi algo surpreendente. A gente gravou ‘Yahweh’ ao vivo. Quando cantamos, as pessoas assimilaram a música muito rápido, elas foram entendendo o que estava por trás disso tudo, que é o nome que está acima de todos os nomes: Yahweh. É uma música que realmente nos contagia quando a gente começa a cantar.”
Quão Bom (Acústico)
“Essa fala da unidade da Igreja, a unidade do corpo de Cristo. São pessoas diferentes, de classes sociais diferentes, com pensamentos diferentes, mas elas se unem ao redor do nome de Jesus Cristo. Então não existe maior, não existe menor, não existe mais rico nem menos rico, não existe negro nem amarelo nem branco. Existe Cristo, que se torna um no meio de todos. Então essa canção é sobre essa diversidade que existe no meio do povo, mas que todas essas diferenças podem ser colocadas diante de Deus, diante da cruz de Cristo, porque ele nos ama igualmente e nos trata igualmente. Então ‘Quão Bom’ é muito sobre isso, sobre a alegria de estarmos juntos como Igreja, nas nossas reuniões semanais, nas nossas celebrações. É uma canção que gira em torno dessa celebração de sermos um, e é algo muito empolgante, quando a gente começa a cantar, ver as pessoas se abraçando independentemente das posições que ocupam na sociedade.”
Eu Vou Amanhecer (Acústico)
“Essa nasceu há alguns anos, quando perdi minha irmã. Ela, aos 34 anos, teve um câncer no pâncreas, e foi muito difícil para a minha família. E uma surpresa, porque ela era uma pessoa superpreocupada com a saúde – com a dela, a do esposo, a dos filhos –, tinha uma alimentação saudável, fazia check-up a cada seis meses. Ela trabalhava como enfermeira-chefe no setor de câncer de um hospital da cidade. E aí recebeu a notícia de que estava com câncer no pâncreas e morreu três, quatro meses mais tarde. Sofri muito também pela minha ignorância em relação ao câncer, porque eu não sabia que as pessoas sofriam tanto. A gente tinha ideia de que era difícil, toda a questão de fazer o tratamento, mas foi infinitamente pior do que tudo o que eu já tinha imaginado, então eu vi ali de perto aquele sofrimento da minha irmã e da minha família, e vi meus pais perdendo a filha, porque o natural da vida é você enterrar seus pais. Então foi um mix de sentimentos – depressão, angústia, desistência, desespero. Até que, um dia, acordei de manhã e, por um feixe na janela, pela cortina, apareceu o sol. E aí me veio esta frase: ‘Você amanheceu, o sol está brilhando e a vida vai continuar.’ E foi nesse contexto que ‘Eu Vou Amanhecer’ nasceu. A música fala que as lutas realmente vêm, as perdas acontecem, mas vou amanhecer e, quando o sol chegar, as misericórdias do Senhor vão se renovar. Tem uma frase bíblica que diz que as misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã. E eu me apeguei a essa frase. Também aconteceu uma coisa curiosa: quando gravei essa faixa ao vivo, desci do palco e veio um casal falar comigo. A menina me disse: ‘Muito obrigada por essa canção. Acabei de perder uma pessoa da minha família, e essa música me trouxe muita força.’ E aí eu pude compartilhar com ela também a minha história, que era uma canção nascida de uma perda também. Acho que é uma música que nos leva a olhar para frente e para Jesus Cristo.”
Foi Graça/Maravilhosa Graça (Acústico)
“Essa nasceu de uma maneira muito espontânea, como se eu estivesse pensando alto, meio como um suspiro. É sobre você olhar para essa discrepância entre tudo aquilo que Deus é, tudo o que Ele criou, e o quanto somos finitos e limitados. E Deus, em toda sua grandiosidade, ainda te ama, te quer bem, se importa com você. Embora muita gente acredite que, diante de toda essa complexidade do universo, Deus não se importa conosco, Ele se importa, sim. E essa canção vem daí, de olhar para as bênçãos em nossa vida e de enxergar a soberania, a majestade de Deus, o quanto finito eu sou e, ainda assim ele se importar comigo e derramar sobre mim o seu favor imerecido, que a gente chama de graça.”
Fogo do Céu (Acústico)
“Essa faixa fala sobre o Espírito Santo que a Bíblia nos diz que opera em nós, que é nosso consolador, nosso amigo, aquele que está conosco todos os dias. É como um vento, a gente não vê, mas sente e sabe quando está ali. Em alguns momentos, achamos que estamos sozinhos e nosso coração é uma rocha – algo frio, sem vida, sem esperança. Mas o Espírito Santo vem com esse fogo e nos aquece, nos anima, nos faz levantar e caminhar. Então foi assim que essa música nasceu, e tem cumprido seu papel de nos encorajar e fazer com que a gente caminhe aquecido.”
Ao Primeiro Amor (Acústico)
“Eu me lembro muito bem do dia em que fiz essa música. Eu estava na sala da minha casa e comecei a cantar algumas coisas. E é sobre meu desejo de voltar ao início da minha caminhada. Às vezes, a gente vai meio que se esquecendo de por que estamos aqui, qual o nosso propósito, e vamos deixando a vida nos levar. Então essa canção é uma oração, é uma súplica para voltarmos àquele fogo do primeiro amor, do início de tudo, de quando a gente teve esse encontro com Jesus e começamos essa linda história de amor. É uma busca para que esse momento seja eterno, esteja presente todos os dias da nossa vida.”
Ao Teu Encontro/Manso e Suave (Acústico)
“‘Manso e Suave’ é um canto bem antigo. E, pensando nele, a gente fez essa música, que fala sobre uma história muito conhecida no meio cristão, que é a do filho pródigo: alguém que estava dentro da casa do Pai e preferiu seus próprios sonhos, sua própria vontade. Aí ele pegou sua herança e saiu de casa. Então, essa é uma canção que fala sobre isso e sobre o retorno para a casa e para os braços do Pai, a essa reconciliação com Ele, nosso Deus. E, particularmente, é uma canção que fala muito comigo, com a minha vida, porque eu não saio da casa do meu Pai, mas, em alguns momentos, meu coração sai da presença Dele e preciso sempre tentar retornar e buscar aquilo que Ele deseja, que Ele desenhou para mim, que é o melhor.”
Cria em Mim (Acústico)
“Essa música é um grito, um desejo, um clamor para que a gente tenha um coração parecido com o de Jesus. Você abre a Bíblia e começa a ler sobre a vida e a obra de Jesus, e se encanta com tudo aquilo que ele fez, que ele ainda faz, na verdade. A Bíblia nos ensina que Jesus escolheu um caminho de humildade. E eu, que tive Covid-19 recentemente, me dei conta do quanto a nossa vida é breve, o quanto ela é pequena. É um vapor: está ali e, de repente, some. Então essa canção é um clamor para que a gente tenha um coração humilde, que ame mais as pessoas, que não dê lugar ao orgulho, à vaidade, à inveja. É um grito que diz: ‘Cria em mim um coração como o Seu’. É sobre olhar para Jesus e querer ser igual a ele, querer andar pelos caminhos que ele andou.”
Atraído (Acústico)
“Essa música também fala sobre o filho pródigo, mas já no momento em que esse filho se arrepende e vê que não tem como viver longe do Pai. Ele nasceu para Deus e para a casa do Pai. E, quando esse filho chega lá, o Pai dá uma grande festa para celebrar. Então essa é uma música que fala sobre como Deus nos atrai, está sempre tentando nos trazer para perto Dele, mesmo quando estamos distantes, fazendo coisas que estão longe do coração Dele. Mas nosso Pai sempre está na porta, à nossa espera.”
No Santo Dos Santos (Acústico)
“Essa fala sobre a proximidade que temos com Deus por meio de Jesus Cristo. A Bíblia diz que quando Jesus morreu na cruz, havia um véu que nos separava, mas agora esse véu caiu. E Jesus é a ponte que nos liga a Deus. A Bíblia diz que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Que ninguém vai ao Pai se não for por ele. Então essa canção é sobre esse lugar santíssimo que Deus habita, mas para onde agora eu posso ir. Eu não preciso pagar penitência, só preciso aceitar Jesus Cristo como meu único e suficiente salvador, para que eu possa desfrutar de toda a beleza de Deus e de tudo aquilo que Deus é. Então a música também traz muito essa importância de a gente não ter um Deus distante, mas um Deus que está perto de nós todo o tempo.”
Abram os Céus (Acústico)
“Essa faixa é outro clamor, é outro grito diante dos nossos corações tão secos como a terra seca, a terra sem vida. A gente fica assim em tantos momentos da nossa vida. E essa música é um grito para que os céus se abram e a chuva de Deus caia sobre o nosso coração, sobre a nossa vida, e que essa chuva possa trazer seus frutos. Uma parte dela diz: ‘Eu não me calarei, não vou ficar quieto até que a sua chuva venha’. É um reconhecimento de que só Deus pode transformar nossa alma, nossa vida. Só Deus pode, de fato, nos transformar.”
É Proibido (Acústico)
“Essa faixa é um bom e velho rock 'n' roll. Ela fala de tudo aquilo que Deus me deu, de tudo o que Deus fez na minha vida e que, diante daquilo que Ele ainda vai fazer, não posso ficar parado, não posso ficar quieto. Tenho que me mover em direção às coisas de Deus e celebrar a vida Dele e a unidade que tenho em Jesus Cristo, com meus irmãos. A Bíblia fala sobre o grande barulho de festa no meio do povo de Deus. E essa música fala muito sobre isto: o estrondo, os barulhos, sobre a gente celebrar tudo aquilo que Deus nos deu, tudo aquilo que Ele ainda irá nos conceder.”