Rua Mundo Novo

Rua Mundo Novo

A trajetória do cantor e compositor Gabriel Aragão está intimamente ligada aos Selvagens à Procura de Lei, banda de rock que ele fundou nos anos 2000 em Fortaleza. Após lançar o EP ABRECAMINHOS (2022), o músico apresenta seu primeiro álbum solo, Rua Mundo Novo (2023), gravado em Portugal e produzido por Marcelo Camelo. “Eu estava ouvindo Toque Dela [2011], do Camelo, que é um álbum que me ajudou muito durante a pandemia [de covid-19]. De repente tive a ideia de convidá-lo para trabalhar comigo. Um tempo depois ele me ligou dizendo que tinha gostado do meu som e que podíamos fazer algo juntos. Ele trouxe um lado mais solar ao projeto”, explica o artista cearense ao Apple Music. Neste álbum, Aragão canta e toca guitarra e violão; Camelo está no baixo, bateria, guitarra e percussão; Laura Lavieri faz backing vocals; Felipe Ventura toca violino e viola; e Claudio Andrade está nos teclados. “No sentido lírico, é um álbum bem nordestino. Eu moro em São Paulo desde 2013, mas a saudade do Ceará é constante e aumentou durante o período de isolamento social. Fiz as músicas que eu precisava ouvir naquele momento”, revela. A seguir, Aragão comenta as faixas de Rua Mundo Novo: Ainda Está no Ar “É uma parceria com Daniel Medina, meu conterrâneo de Fortaleza e grande poeta. Foi a primeira música que escrevi fora dos Selvagens à Procura de Lei. Fiquei dez anos compondo somente com eles, então escrever com outro parceiro foi um desafio muito legal. Tem a ver também com a minha paternidade em meio à pandemia. E o [Marcelo] Camelo trouxe uma positividade bonita à música. É um pouco de esperança em tempos de desesperança.” Eu Mais Tu “Este título estava guardado há anos. Andei muito pelo interior do Ceará e sempre escutei frases do tipo: ‘Vamos ali? Eu mais tu?’. Acho engraçadinho, até romântico. Foi uma das últimas composições do álbum. Eu estava fazendo outra música com o Medina e ela acabou surgindo no caminho.” A Sorte “A composição é minha e do Camelo. Surgiu de repente. Ele já havia feito acordes e escrito ‘na virada da montanha, senti passar’ e ‘sorte, venha!’. E eu na hora não demonstrei tanta emoção, mas por dentro queria dar um grito de felicidade. Compor com ele era a minha sorte! Fiquei a madrugada inteira ralando para fazer o resto da música. Incluí uma citação do poeta Thiago de Mello, que havia morrido há pouco tempo: ‘Faz escuro, mas eu canto’. A gente adicionou palmas bem nordestinas, e Camelo ainda trouxe referências de samba surf carioca.” Sampa Sampa “É uma parceria minha com o cantor pernambucano Tagore. É sobre o nordestino que mora no Sudeste. Ele já tinha alguns trechos prontos, e eu continuei. Na segunda estrofe, todos os inícios das frases formam o nome São Paulo: ‘Separo as avenidas em velocidades/ Abafo no teu peito aquela ansiedade/ Orquestro mil sorrisos dentro do salão’. E é ‘Sampa Sampa’ porque são duas cidades para um nordestino. A primeira vem com o choque inicial e a segunda é quando você começa a se sentir em casa. A participação de Laura Lavieri iluminou a música.” Desejos Carnais “A composição inicial é do fortalezense Mateus Fazeno Rock, um dos grandes artistas da minha geração. Ele tinha composto um samba, mas comigo se tornou uma bossa nova safadinha. Tem referências de ‘Faz Parte do Meu Show’, do Cazuza [do álbum Ideologia, de 1988]. Camelo fez este arranjo de cordas lindo, que ficou meio Tom Jobim. Parece que você está acordando na Urca, no Rio de Janeiro.” Cabra Marcado “Foi composta em 2020, no início da pandemia. Eu estava trancado num apartamento escuro em São Paulo, sem vista, deprimido. Sentia muita saudade do Ceará, do céu azul e do sol. Os shows estavam sendo desmarcados. Foi um período muito triste. Incluí uma citação de Darcy Ribeiro que diz: ‘Mais vale errar arrebentando-se do que se poupar para nada’. O título vem de Cabra Marcado para Morrer [1984], documentário do Eduardo Coutinho.” Rua Mundo Novo “Esta música quase foi para Paraíso Portátil [álbum dos Selvagens à Procura de Lei, de 2019]. É sobre a notícia de um morador de rua nordestino que vivia em São Paulo. Ele conseguiu juntar uma grana para finalmente ter sua primeira casa, que ficava na rua Mundo Novo. Hoje ele trabalha como ativista social. Sempre dói ver as pessoas em situações como essa, principalmente no inverno. Essa notícia me emocionou.” Por Perto “É uma parceria com Ítalo Azevedo, cantor de Fortaleza. Fala sobre a redescoberta do amor. Você pode se apaixonar pela mesma pessoa várias vezes ao longo da vida. É também sobre saudade. Traz uma série de referências. Tem um pouco da ideia de ‘El Amor Después del Amor’, do [cantor argentino] Fito Páez. Na época eu também estava ouvindo Clube da Esquina. Quando estávamos gravando, Camelo comentou que era uma balada meio Herbert Vianna. E ainda tem uma citação em homenagem a Gal Costa, que havia partido na época: ‘Tem que estar mesmo sempre atento e forte’.” Lokamérica “É mais uma música que eu fiz originalmente para os Selvagens à Procura de Lei. Admiro a cultura indígena da América Latina e seus rituais, como o da ayahuasca. Temos muito a aprender com eles. Na época eu estava ouvindo [o cantor franco-espanhol] Manu Chao, que é um cara que eu admiro demais. A composição foi fluida, guiada pela sonoridade das palavras. Camelo fez um arranjo de cordas incrível.” Cidade Baixa “Esta faixa era uma parte da música ‘Rua Mundo Novo’. É inspirada em ‘Deus lhe Pague’, de Chico Buarque [do álbum Construção, de 1971]. Ela partiu de um riff antigo da fase embrionária da banda. Ficou linda a entrada da voz da Laura Lavieri. Soa como um manifesto.” Turva “É uma parceria com Roberta Campos. Ela sempre traz a positividade, e eu, a acidez. É sobre superar um relacionamento tóxico. Na época eu estava ouvindo Fagner, o que acabou influenciando também. Eu gosto porque termina com esperança, fecha [o álbum] com ‘dei a volta por cima’.”

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