“A gente nem pensava em fazer um novo álbum”, diz Klaus Meine, vocalista do Scorpions, sobre o dia em que a maior banda de rock da Alemanha decidiu fazer exatamente isso, em 2018. “A banda tem uma discografia enorme, a gente poderia fazer turnê para sempre.” Daí um amigo grego de longa data — e grande fã do Scorpions — encorajou-os a compor algo estrondoso como Blackout e Love at First Sting< /i>, clássicos dos anos 80. “Ele disse que é isso que os fãs querem ouvir”, contou Meine ao Apple Music. “A gente pensou: ‘Fala sério, isso tem 40 anos.’ Mas ele fez esse desafio e decidimos ir em frente.” O resultado é Rock Believer, o primeiro álbum de estúdio da banda em sete anos e que retoma a sonoridade triunfante do grupo trazida dos anos 80. É também o primeiro álbum com o baterista Mikkey Dee, ex-Motörhead. “Mikkey levou uma energia nova e muita diversão para a banda”, diz Meine. “Gravamos todos juntos as faixas básicas no estúdio, e acho que isso fica evidente quando você ouve as músicas.” A seguir, ele fala sobre cada música de Rock Believer. Gas In The Tank “Normalmente, [o guitarrista] Rudolf [Schenker] me manda umas demos e eu escrevo as letras, mas desta vez eu comecei a escrever as letras primeiro, então foi tudo ao contrário. Eu mandei para Rudolf, que estava no estúdio dele na Tailândia, e ele me mandou de volta com uns riffs matadores. Foi tipo: ‘Ei, a gente ainda tem muita lenha para queimar, meu amigo!’ E foi assim que a gente enfrentou o difícil período de lockdown.” Roots In My Boots “A gente queria voltar às nossas raízes com as novas músicas. Nós queríamos reativar o DNA original do Scorpions: grandes riffs, melodias fortes. A gente quis levar isso para o estúdio tocando todos juntos ao mesmo tempo. Mesmo depois de tanto tempo, a gente ainda está conectado com a nossa música, e isso é o mais importante. Isso é ‘Roots In My Boots’.” Knock ’em Dead “Esta faixa é sobre quando tocamos nos EUA pela primeira vez, em 1979. Para uma banda alemã, tocar nos EUA era um sonho, sabe? A primeira vez foi em Cleveland, em um festival num estádio com grandes atrações, como Aerosmith, Ted Nugent, AC/DC, Thin Lizzy, Journey. A gente era a primeira banda, tocamos ainda de manhã, e o nosso empresário disse antes de a gente entrar: ‘Galera, acabem com eles [go knock ’em dead]. A gente só tocou 30 minutos, mas foi um momento mágico.” Rock Believer “Durante muitos anos, a gente sempre escutou que o rock estava morto. Mas no mundo todo ainda existem milhões de pessoas que acreditam no rock. Nossos fãs são os melhores do mundo. Veja um festival como o Hellfest, na França, onde vamos tocar este ano [2022]: mais de cem mil ingressos já foram vendidos. Uau. Isso significa que o rock está vivo e passa muito bem. Então este álbum é dedicado a todos aqueles que acreditam no rock.” Shining Of Your Soul “Ela tem um pouco de reggae, e, quando a faixa surgiu, é claro que a gente se lembrou de ‘Is There Anybody There?’, do álbum Lovedrive [1979]. Uma vez me perguntaram quem da banda curte reggae, e com certeza foi Rudy que veio com esta faixa. A música é bem grudenta, e é uma das raras canções de amor do álbum. Sabe quando uma pessoa chega e o clima muda, como se a alma brilhasse? É disso que trata a música.” Seventh Sun “Quando o nosso amigo grego disse, em 2018, que deveríamos fazer outro álbum como Blackout, Love at First Sting ou Lovedrive, a gente automaticamente pensou em músicas como ‘Animal Magnetism’ e ‘China White’. Elas são bem pesadas, mas têm uma pegada meio relax. A gente estava focado nisso, mas Rudy veio com este riff pesado de ‘Seventh Sun’, que sustenta a música toda. Como nos melhores grandes clássicos.” Hot And Cold “Esta é uma das músicas que [o guitarrista] Matthias Jabs criou, e acho que é um rock acelerado legal. A música leva você a um boteco de striptease de uma área decadente, onde você fica com uma febre louca, com frio e com calor, porque você não para de imaginar as loucuras que ela pode fazer no pole dance. A ideia para escrever a letra veio de quando íamos a clubes de strip nos anos 80, e muitas meninas dançavam músicas do Scorpions. Elas gostavam muito de ‘The Zoo’, mas a gente nunca pensou em clubes de striptease quando fizemos essa música.” When I Lay My Bones To Rest “Este é um rock rápido com uma potência bem grande. Acho que, aqui, Mikkey estava no clima do Motörhead. É uma música sobre mim e Rudy, o meu parceiro de composição, depois de tantos anos de Scorpions. É uma música que prova que a gente ainda manda ver. Acho que os fãs vão ficar surpresos por termos criado algo no melhor estilo de músicas como ‘Can’t Get Enough’, por exemplo.” Peacemaker “Eu estava brincando com as palavras e criei a frase ‘Peacemaker, peacemaker, bury the undertaker’ [Pacificador, pacificador / Enterre o agente funerário]. Quando tanta gente morre por causa de pandemia, guerra e outros crimes – como vemos na Bielorrússia, Ucrânia e Afeganistão –, parece que o agente funerário está fazendo hora extra, sabe? Mas achamos que o pacificador deve comandar o mundo. E cabe a nós apoiar o pacificador para tornar o mundo um lugar melhor.” Call Of The Wild “Esta é uma música meio blues que faz você sentir o calor da noite. Tem um riff de guitarra e um groove pesados. É mais uma canção de amor, mas é mais sexy. ‘You’ve got the funky rhythm, girl. I got the rocking drive’ [Você tem o ritmo do funk, gata / Eu tenho a pegada do rock]. Nada mais a dizer. Acho que você entendeu.” When You Know (Where You Come From) “Esta é a única balada do álbum. A música fala que é importante ser fiel a si mesmo. Se você conseguir alcançar os seus objetivos, nunca se esqueça de onde veio. Faça tudo com respeito e leveza e você sempre vai saber para onde vai. Na verdade, a faixa era acústica originalmente – a versão acústica está na versão deluxe do álbum –, mas gostamos tanto dela que fizemos uma versão rock.” Shoot For Your Heart “Esta foi a música [do álbum] que escrevi primeiro, em 2019. Ela deu início ao processo de escrever as letras. E, neste caso, eu também fiz a música. É outra música no estilo de ‘Can't Live Without You’ de que os fãs gostam. A gente não vive sem os fãs. Quando fazemos uma turnê, o nosso único objetivo, toda noite, é conquistar um lugar no coração deles.” When Tomorrow Comes “É uma música bem acelerada e com uma letra incomum. O nosso produtor sugeriu gravar os vocais nos versos para dar uma ideia de megafone. É uma música inspirada no meio ambiente – oceano poluído, mudanças climáticas, incêndios florestais e desastres no mundo todo. Parte da música foi composta durante os lockdowns e fala para os jovens cuidarem bem do nosso planeta. Vocês têm a chave para o futuro e espero que ajam com inteligência.” Unleash The Beast “Esta é uma musiquinha louca que foi inspirada no período em que a gente ia de um lockdown a outro. A gente estava na nossa bolha aqui no estúdio, tentando escapar da cruel realidade da pandemia. ‘We keep dancing in the dust until the super-spreader kills us all’ [A gente vai dançar na poeira até o supertransmissor nos matar’], diz um verso. Parece um filme ruim dos anos 80, mas infelizmente é 2022, e este é o mundo em que vivemos.” Crossing Borders “Esta é mais uma música de Matthias. Não existem fronteiras no mundo da música nem no mundo das emoções. Quando a gente está em turnê, a gente cruza fronteiras a cada dois dias e sai da nossa zona de conforto. Mas eu acho que esta música é mais sobre sexo e rock ’n’ roll. Ela é meio blues, e Mikkey e o baixista Pawel criaram um ótimo ritmo.”