Rio: Só Vendo a Vista

Rio: Só Vendo a Vista

Martinho da Vila é uma das vozes mais importantes do samba e, mesmo tendo nascido na cidade de Duas Barras, no estado do Rio de Janeiro, o compositor e cantor se considera como nascido na capital fluminense. “Não importa de onde a pessoa é: se ela vai morar no Rio de Janeiro, ela se torna carioca”, conta Martinho em conversa com o Apple Music. Não é à toa que o seu amor pela cidade já gerou grandes homenagens ao local ao longo da sua carreira. Em 1994, ele lançou Ao Rio de Janeiro e, 26 anos depois, o sambista volta a cantar sobre a sua paixão por um dos maiores cartões-postais do Brasil em seu 55º álbum, Rio: Só Vendo a Vista. Para da Vila, todos os seus trabalhos são diferentes porque eles são conceituais. “Eu penso em um conceito e vou criando músicas relacionadas, vou pesquisando outros compositores”, diz o artista sobre o álbum que faz uma completa alusão ao Rio de Janeiro, às suas características e, é claro, à sua escola de samba do coração: a Unidos de Vila Isabel. Com a sua risada icônica e única, Martinho da Vila fala sobre as 12 faixas de Rio: Só Vendo a Vista. “Vila Isabel Anos 30” “Eu pensei no Rio de Janeiro e, na minha cabeça, veio a Vila Isabel, é claro, a minha escola de samba. Então, me lembrei de que tinha um samba que fiz para a Vila em pareceria com o saudoso Luiz Carlos da Vila, mas que ainda não tinha gravado. Por isso, abri o álbum com este samba”. O Rio Chora, o Rio Canta “Fui vendo quais músicas eu tinha sobre o Rio de Janeiro, e aí me lembrei de uma, ‘O Rio Chora, o Rio Canta’, que é uma referência à época em que o Rio deixou de ser a capital do Brasil e se transformou no estado da Guanabara. É sobre a formação do Rio de Janeiro”. “Rio: Só Vendo a Vista” “Eu tenho um parceiro, Geraldo Carneiro, que é maravilhoso. Eu falei para ele que estava fazendo um álbum sobre o Rio de Janeiro, e ele chegou com uma poesia e falou: ‘Parceiro, vê aí o que você acha.’ Eu falei: ‘Caramba, que legal, mas isso aí é difícil musicar.’ Me esforcei bastante, mas consegui, e a música ficou maneira. E virou o título do álbum. O interessante é que, na visão dele, a gente pode ler a letra com várias interpretações. Alguém pergunta: ‘Martinho, como é o Rio?’, eu digo: ‘Olha, o Rio, só vendo a vista, só indo lá’. E outra: tem gente que diz que o Rio é uma cidade vendida, mas não, o Rio não se vende. A gente só vende lá a vista, quem quiser comprar... E vai por aí. E o que eu aprecio mais no Rio são as belezas naturais, mas a gente fala também do subúrbio, da Zona Sul. Da Zona Sul a gente vai à Norte. E tem uma frase na música que diz: ‘O Rio, às vezes, é um grande abacaxi’”. “Minha Preta, Minha Branca” “No Rio, eu pensei: ‘Cruzeiro do Sul virou carioca’, porque aqui no Rio, todo mundo e tudo o que vem para cá vira carioca. Se você morar no Rio de Janeiro, você vai virar carioca. Nós fizemos uma lista de cem cariocas importantes, uns 50% ou mais são cariocas de outros estados. Então, eu fui dizendo que o Cruzeiro do Sul virou carioca e eu estava chamando a minha mulher para ver o Cruzeiro do Sul, que estava mais brilhante, e foi uma forma de homenageá-la”. “Na Ginga do Amor” “Esta música é divertida, eu fiz em parceria com o Moacyr Luz e é uma homenagem à santíssima trindade da música popular brasileira: Donga, Pixinguinha e João da Baiana. É uma homenagem a eles, que são cariocas da gema”. “Você, Eu e a Orgia” “’Você, Eu e a Orgia’ reflete uma característica do carioca que é a boemia. Aqui é o lugar onde tinha mais botequins, mas agora acho que é São Paulo. Mas em toda esquina ainda tem muitos. Eu dei essa música para a saudosa Beth Carvalho gravar, ela a lançou há um tempão e lembrei: ‘Caramba, esta música eu não gravei na minha voz’, aí fiz esta leitura e contei com a participação da Mart’nália, da Juliana e da Maira”. “O Caveira” “‘O Caveira’, esta é um pouco divertida. O caveira é uma figura do imaginário da minha mãe, que já faleceu. Ela me dizia: ‘Filho, você evite dívidas, porque se tem um cara a quem você deve é o caveira. Quando você está muito bem, chega a uma festa e tem um cara a quem você deve, pronto, é um caveira’. Aí eu fiz esta música falando da dívida com o caveira, e quem participou foi a Verônica Sabino, uma bela cantora”. “Pensando Bem” “Esta é uma música mais reflexiva, uma música antiga que regravei agora. E a Verônica Sabino também fez uma boa intervenção. É uma pareceria com João de Aquino, um violonista”. “Menina de Rua” “Esta também é reflexiva, como a anterior, e mais dramática um pouco. Quem interpretou comigo foi a Mart’nália. Ela canta muito. Foi uma bela participação”. “Eterna Paz” “Um compositor parceiro meu de outras músicas, inclusive de ‘Você, Eu e a Orgia’, o Candeia, ele me deu uma melodia bonita, para eu fazer uma letra romântica. Ele disse: ‘Eu gosto como você escreve as letras românticas, faz uma aí com essa melodia para mim’. Mas, logo em seguida, ele descansou. Eu fiquei pensando na espiritualidade dele, que é a minha também, sobre essas coisas de futuro, que ninguém sabe exatamente o que acontece depois que a gente sobe para o outro plano. Então, em vez de fazer uma música romântica, fiz uma reflexiva, falando do descanso para quem cumpriu bem a missão aqui na terra. Chuteiras penduradas. Aparece aí que a parceira é com a Leonilda, a mulher do Candeia, mas eu botei o nome dela porque ela estava em uma situação difícil, e naquela época as editoras davam um bom adiantamento para os autores e eu quis dar uma força para ela. Mas é uma música que faz a gente pensar na morte serenamente. Não precisa ter medo da morte porque ela é eterna”. “Assim Não Zambi” “Esta faixa, ligando à anterior, é uma música antiga da qual fiz uma outra versão, com a participação da Maira, com o arranjo dela também, e na qual eu brinco: ‘Quando eu morrer, vou bater lá na porta do céu, vou falar para São Pedro já dando bronca’. E falo para ele que a vida aqui embaixo está muito complicada. É uma brincadeira séria”. “Umbanda Nossa” “Ela emenda com a anterior. Zambi é deus na umbanda, então eu fiz uma música chamada ‘Umbanda Nossa’, que é uma coisa bem carioca, então deixa tudo dentro do espírito da carioquice.”

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