Raw Power (2023 Remaster) [Iggy Mix]

Raw Power (2023 Remaster) [Iggy Mix]

Pergunte a Iggy Pop o que ele queria quando começou a escrever, com o grupo The Stooges, seu terceiro álbum, Raw Power, e ele vai responder: “Não achei que a gente fosse muito longe, porque todo mundo preferia ouvir aquelas coisas domesticadas. O negócio era o seguinte: nossa música era muito selvagem para as pessoas. Mas o que eu realmente queria? Eu queria fazer todo mundo pirar.” A então recém-configurada banda – Iggy nos vocais, James Williamson na guitarra, Scott Asheton na bateria, o ex-guitarrista dos The Stooges, Ron Asheton, no baixo e David Bowie na produção – estava prestes a fazer exatamente isso. O que eles ainda não sabiam quando entraram no CBS Studios, em Londres, em setembro de 1972, é que também estavam prestes a mudar os rumos do punk. Cinquenta anos após seu lançamento, em fevereiro de 1973, Raw Power ainda é uma obra colossal. Mas seu início não foi nada fácil. “Quando o The Stooges Mach One se separou, foi um caos”, conta Iggy ao Apple Music. “Recebi uma oferta para ir para a Inglaterra e formar uma banda, mas ninguém estava procurando os Stooges – só a mim. Então fui atrás de Williamson, que era o guitarrista mais interessante que eu conhecia. Ele estava morando no sofá da irmã dele. Eu disse: ‘Toque sua melhor ideia para mim’. Ele tocou o riff de ‘Penetration’. Aquilo me convenceu. Liguei para ele, insisti, forcei a barra e o manipulei até conseguir trazê-lo comigo e, depois, os outros dois. Todo mundo cedeu e jogou as mãos para o alto: ‘Pronto, temos os Stooges’.” Além da presença crucial de Williamson, houve outra importante mudança. A banda disfuncional e com problemas de drogas, que tinha lançado um autointitulado álbum em 1969 e Fun House em 1970 apenas sob o nome de The Stooges, foi rebatizada de Iggy & The Stooges. E a troca de poder implícita foi bem real: esta agora era a banda de Iggy. “Pensei: agora não é o momento da minha carreira de ir para qualquer lugar que seja sem a minha própria música”, relembra o cantor. “Vou ficar sobrecarregado e sem tempo para mais nada.” A nova parceria musical de Iggy com Williamson foi complicada no começo. “Era difícil tocar com ele”, diz. “Ele aprendeu no quarto dele e também gostava de escrever no quarto. Ele não pensava muito nas outras pessoas. O estilo dele era muito denso e muito difícil se encaixar. Para mim, era duro cantar com aquilo, então decidi ir para os extremos.” “Ir para os extremos” é uma boa maneira de descrever alguns dos momentos mais memoráveis de Raw Power. Com seu riff agressivo e sua rajada de abertura – “I’m a streetwalking cheetah with a heart full of napalm / I’m the runaway son of the nuclear A-bomb” [em tradução livre: “Sou um leopardo urbano com um coração cheio de napalm / Sou o filho fugitivo de uma bomba nuclear”] –, “Search and Destroy” é um hino atemporal, a música que deu origem a milhares de bandas. Nomes como Steve Jones (Sex Pistols), Johnny Marr (The Smiths) e Mick Jones (The Clash) podem confirmar isso. Claro, o Iggy de 25 anos ainda não sabia que ele e o The Stooges estavam a um passo de lançar um movimento, mas ele já podia sentir que aquela era uma música grandiosa. “Quando ouvi o playback de ‘Search and Destroy’ no estúdio, achei que ela tinha essa qualidade imortal”, conta. “Eu sabia que era uma música boa e que duraria, à sua própria maneira, muito tempo.” Pode-se dizer o mesmo da pegada The Doors de “Gimme Danger”, da melodia hipnótica de “Penetration” e do blues de “I Need Somebody”. As histórias por trás delas – sem mencionar as da faixa-título roqueira, da sensual “Shake Appeal” e da petulante “Your Pretty Face Is Going to Hell” – são quase tão legais quanto as próprias músicas. A seguir, Iggy conta mais detalhes por trás de cada faixa de um dos maiores e mais duradouros legados do punk: Search and Destroy “Saiu uma reportagem sobre o Vietnã na revista Time e os subtítulos nas duas partes da matéria eram ‘Search and Destroy’ e ‘Raw Power’. Então roubei os dois. A frase que abre a música é uma atualização de ‘Heart Full of Soul’, do [grupo] The Yardbirds, que diz: ‘I got a heart full of soul’ [em tradução livre: ‘Tenho um coração cheio de alma’]. Pensei: ‘Bom, eu não. Eu tenho um coração cheio de napalm’. Ele tinha uma excelente frase ali, então eu só a atualizei.” Gimme Danger “Eu estava tentando cantar em um estilo meio Doors. Também fui influenciado pelos Stones – eles tinham a ‘Gimme Shelter’. Mas a música era uma auto-observação genuína. Eu, aparentemente, me atraía pelas gatas perigosas – as encrenqueiras, as destrutivas. A música era basicamente algo entre isso e sobre ser assombrado pelo estresse pós-traumático causado pelo vício em drogas e pelos fracassos na indústria da música, esse tipo de coisa.” Your Pretty Face Is Going to Hell “Esta é interessante: a letra é sobre uma garota chamada Johanna, que estava me dando nos nervos. Ela também aparece na música ‘Johanna’ [de 1987]. E era basicamente o seguinte: ‘Ok, baby, você vai vir com essa agora? Você se acha incrível. Então espera só até você perder sua melhor arma’. Era uma coisa horrível de se dizer. Mas a faixa originalmente se chamava ‘Hard to Beat’. O pessoal da [agência] MainMan ficava sugerindo que eu a chamasse de ‘Your Pretty Face Is Going to Hell’, mas eu não queria. Então eles trocaram o nome pelas minhas costas. Mais tarde, entendi que eles estavam certos. É um ótimo título.” Penetration “Eis uma escaldante música de sexo. Bom, sexo com algumas drogas. É uma faixa sensorial. E foi a primeira coisa que Williamson tocou para mim – o riff de ‘Penetration’. Pensei: ‘Com essa abordagem, a gente poderia fazer um negócio incrível juntos, com vários altos e baixos e tudo o mais’. Esta música tinha um certo clima e era excitante, até meio romântica de um jeito esquisito.” Raw Power “Esta música é importante, porque tem um riff de rock bem básico, mas, pensando em retrospecto, ela é assustadoramente parecida com ‘Communication Breakdown’ [do Led Zeppelin]. É como se ‘Communication Breakdown’ encontrasse ‘Telegram Sam’, do T. Rex. Nós adorávamos o [líder do T. Rex, Marc] Bolan – eu e o James fomos assisti-los em Wembley e ele arrebentou. Ficamos muito interessados no que ele fazia. Eu sempre esqueço de dar o crédito, mas Bolan tem uma influência definitiva sobre ‘Raw Power’. Ele era mais desencanado sobre isso – nós não. Liricamente, a música sugere que, se você parar de comer e dormir, pode se tornar um sujeito incrível.” I Need Somebody “Esta é o que costumavam chamar de ‘barrelhouse blues’, tipo um ‘rolling blues’. Você escuta muito disso com pianistas mais velhos, como Albert Ammons. E tem esse lado B obscuro do Question Mark [Rudy Martinez], que eu sempre adorei, chamado ‘I Need Somebody’, mas é uma música totalmente diferente. O sentimento dela é: ‘Preciso de alguém para lidar com isso. Alguém me ajuda, alguém me ajuda...’ Então achei que eu pudesse fazer a minha própria versão. Mas ele sempre me inspirou muito.” Shake Appeal “Eu queria cantar uma música que fosse um pouquinho inspirada em ‘Short Shorts’ ou ‘Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini’ [versão original de ‘Biquíni de Bolinha Amarelinha’]. Sabe, ‘a wiggle when she walks, a wiggle when she talks’ [em tradução livre: ‘um requebrado quando ela anda, um requebrado quando ela fala’]. Existem milhões dessas, certo? Tem outra do Bruce Channel chamada ‘Hey! Baby’. Muitas daquelas músicas de New Orleans são assim, mas isso era um pouco óbvio demais para mim. O que realmente pega a gente nesse fenômeno do caminhar de uma mulher? É o rebolado. Eu com certeza não queria cantar algo do tipo ‘shake, baby, shake’, então achei que ‘Shake Appeal’ daria conta do recado. E a ideia é que o efeito que isso tem sobre mim é intoxicante, hipnotizante, irresistível – esse tipo de coisa.” Death Trip “Sabe a música ‘Sea Cruise’ [de Frankie Ford]? ‘Baby, won’t you let me take you on a sea cruise?’ [em tradução livre: ‘Baby, por que não deixa eu levar você para um cruzeiro?’] Esta faixa é baseada nessa estrutura, mas, em vez de convidá-la para um cruzeiro, estou a convidando para uma viagem mortal [death trip]. Adoro esse riff do Williamson. A gente tinha finalizado as outras sete faixas e eu estava começando a entender que não teríamos apoio dos nossos empresários nem da indústria, nem de nada e ninguém, porque desafiamos o status quo. Então cantei com isso em mente. Estou basicamente dizendo que vou fazer isso até morrer. Era com o que eu estava lidando na época.”

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