Pra Gente Acordar

Pra Gente Acordar

Os Gilsons iniciaram a carreira juntos em 2018, durante uma apresentação no Dia do Índio, mas os três integrantes já se conheciam havia muito mais tempo, afinal Francisco, José e João são todos integrantes da família Gil. Francisco e João são netos de Gilberto Gil, e José é filho do músico. Daí vem o nome da banda, uma junção do sobrenome famoso com “sons”, que significa filhos em inglês. “Surgimos de maneira despretensiosa, em um show que o José foi chamado para fazer com outros artistas, e também fomos”, conta Fran ao Apple Music. “Quando acabou a apresentação, a minha mãe [Preta Gil] já tinha decidido o nome da banda e falado no grupo de mensagens da família.” De lá para cá, o trio foi se aperfeiçoando e ganhando cada vez mais projeção. Mesmo com a pandemia do coronavírus, a banda continuou crescendo. “A gente ficou esse tempo todo sem fazer shows, mas tivemos um boom nas redes sociais”, conta João. “Rolou um crescimento legal dos Gilsons em números de seguidores e de visualizações. Agora a gente está vendo nossas músicas em um contexto maior e está sendo surreal. As pessoas estão cantando nossas músicas”. E foi justamente durante o período da pandemia que nasceu o primeiro álbum de estúdio, Pra Gente Acordar. “Foi a pandemia que nos atrapalhou, mas também nos ajudou”, explica José. “A gente demorou para começar a gravar. Ainda estávamos sem saber como funcionava direito, então foi aos poucos, de longe. Esse foi o principal desafio, junto com a coragem de iniciar um processo de gravação em um momento que deveríamos estar juntos, mas a pandemia ainda era muito severa. E a gente conseguiu fazer, com cuidado, e ninguém se contaminou. Depois, quando abrimos a porteira, a gente achou um caminho para fazer parcerias, como com o Jovem Dionisio e a Julia Mestre.” João conta que as músicas já chegavam formatadas para eles, mas juntos “partiam para cima delas” e adicionavam guia de voz e violões. Com nove faixas no total, o projeto inicialmente contava com menos. “A gente queria fechar dez faixas no álbum e, no início, tínhamos oito músicas que faziam sentido”, explica José. Segundo ele, foi assim que a faixa “Vem de Lá” entrou para “engrossar o caldo”. “O grande lance desse álbum é o fato de que agora teremos um repertório completo. Chegaremos aos shows com canções nossas. Agora a gente vai fechar em 20 faixas”, complementa Fran. O processo de criação e decisão dos Gilsons para o primeiro álbum aconteceu durante uma viagem para Araras, interior de São Paulo. Lá eles desenvolveram os detalhes que transformariam Pra Gente Acordar em um projeto que tivesse a cara do trio. “Eu acho que esse álbum sintetiza a forma como nós fomos descobrindo nossa sonoridade, mas também desenvolvendo-a e evoluindo-a”, conta Fran. “Ela é muito a continuidade do som que a gente vem fazendo desde que a gente começou, em termos de processo, mas ganhou cada vez mais autonomia. Nos fortalecemos com os parceiros, desde os técnicos de som até os compositores. São as mesmas referências desde o início. O José sempre diz que esse álbum firma a forma que estamos fazendo música desde o começo dos Gilsons.” A seguir, Fran, José e João falam sobre cada uma das faixas de Pra Gente Acordar. “Pra Gente Acordar” Fran: “Esta música nasceu de uma vontade muito grande nossa. Ela foi escrita na primeira semana de 2020, durante a primeira – e única – temporada de shows que nós fizemos e que foi muito importante para a gente, lá no Rio de Janeiro. E a Julia Mestre participou desse dia. Até então, ela tinha uma canção com o José e uma com o João. E eu ficava brincando com ela de que precisávamos fazer a nossa. Nesse dia foi uma onda muito boa, um astral danado. Chegando em casa, eu escrevi o refrão e, quando fui fazer os versos, mandei para a Julia para que ela fizesse. Daí no meu aniversário, no dia 20 de janeiro, ela me mandou a música. Mostrei para os meninos e ela já tinha a nossa assinatura. A faixa foi esse primeiro impulso do álbum e ela é muito de dentro para fora, da canção que surge e vem inteira, com essa vontade de compartilhar. Ela é um presente para a gente, uma das músicas que eu mais tenho vontade de jogar para o mundo, estou com uma ansiedade grande.” João “Ela já vinha com uma questão de otimismo, uma coisa utópica sobre as coisas serem melhores. Mas, com a pandemia, uma nova perspectiva surgiu. Aconteceu uma ressignificação e ela ficou mais forte e atual com a pandemia.” “Vem de Lá” José: “Ela é uma música sem muita pretensão. Eu não tenho muito processo de compositor, mas foi um processo de me sentar e iniciar uma música com o sentimento que vem no momento. É um sentimento de poeta. E ela nasceu desse processo de pegar o violão, tocar e criar. E tem uma parte de compositor de gostar das coisas que faz. E, como não tínhamos uma música juntos, a gente se sentou e a concluiu no momento de gravar. Ela tem uma coisa bem singela de sentar e fazer.” “Dês” João: “Esta foi uma faixa cuja harmonia e melodia eu já tinha, ela era uma música minha, mas eu não tinha ainda uma letra para ela. Até o dia em que, durante um Carnaval e na hora de colocar a fantasia, a gente se reuniu na casa do meu avô. E nesse Carnaval estava o Carlos Rennó, um compositor de São Paulo, e em algum momento no bloco ele comentou que estava fazendo uma música e eu disse que tinha umas coisas prontas e [perguntei] se poderia mandar para ele. Enviei ‘Dês’, e ele criou essa letra incrível em cima dessa música, que fala de amor, de coisas bonitas e é uma parceria nossa. Nessa gravação a gente aproveitou para tentar colocar elementos que não tínhamos colocado antes. Ela tem bastante a onda dos Gilsons, mas conta com coisas como berimbau, um som de flauta. Também tem os teclados do Rodrigo Tavares, uma coisa meio árabe, meio nordestina. José pira muito nessa vibe.” “Proposta” José: “Essa nasceu de um grande percussionista parceiro, o Léo Mucuri. Um dia ele postou o primeiro verso da música, tocando em casa. Mandei uma mensagem para ele perguntando se só tinha aquilo e pedi para ele me dar de presente. Ele me mandou o que tinha, e eu fiquei amarradão com o que ele mandou. Junto com a Mariá, minha mulher, a gente fez uma parte especial. É uma música pela qual me apaixonei de cara quando ela nasceu, já a imaginava um passo adiante. Ela tem esse universo pop e já era uma música do projeto. Todos adoraram. Só tenho agradecimento ao Léo, superparceiro.” “Duas Cidades” João: “Mais uma parceria minha com a Julia Mestre. A faixa fala de encontros e desencontros. Ela é bem o que é: uma parceria feita do modo antigo, na hora. A Julia é uma grande letrista e melodista. A música fala dessas coisas de reencontros, de distância, ao mesmo tempo superando os problemas. E foi a nossa chance de colocar um samba mais tradicional com a nossa roupagem. Um samba mais clássico, um clima mais Jorge Ben com violões.” “Um Só” Fran: “A gente teve uma temporada de shows no porão do teatro e depois fomos chamados para subir ao teatro. No dia anterior eu fiz esta faixa e, na hora do ensaio, eu quis tocar. Daí, no show, a gente tocou e já estava meio pronta. Ela é uma música sobre o homem e a mulher, fala sobre esse encontro sexual orgástico, em um lugar de transcendência mesmo, quando você se torna um só com a outra pessoa. Quando a gente começou a arranjá-la, tivemos um pouco de dificuldade para começar, mas ela pegou o espaço mais pop.” José: “Lembro de que estávamos inseguros no estúdio, mas é legal ver o processo. No fim, todo mundo ficou amarradão nela.” João: “Eu adoro essa música, sempre falo isso para o Fran. Eu vejo uma coisa meio Cazuza e Frejat, uma onda meio blues. Ela dá uma soma muito boa na composição do álbum.” “Bela” João: “Esta é uma música só minha, acho que foi a primeira que eu me propus a escrever a letra, e ela é um presente de aniversário de 80 anos para a minha avó Belina, que tinha o apelido de Bela. E eu fiz para ela. Assim como ‘Duas Cidades’ tem essa coisa do amor que transcende o espaço e a distância, esta é uma música que fala de amor, mas não necessariamente desse lugar do amor romântico. E foi uma das faixas que a galera pirou em fazer. Quando eu a escrevi, ela estava em um tom mais baixo, e trabalhamos para que ela chegasse em um tom legal. Eu fiz em 2019, de presente para a minha avó, que faleceu naquele ano, então ela acaba ganhando esse ressignificado também, pelo fato de minha avó ter falecido e pelo lance da distância ser algo quase que espiritual.” “O Dia Nasceu” Fran: “Esta música foi escrita em uma viagem que eu fiz com vários amigos da escola. Um dia, por acaso, acordei mais cedo que todo mundo e recebi umas mensagens de uma artista da nossa geração que eu admiro para caramba. E eu estava acordado, com um amigo que também acordou cedo, e comecei a cantar uma música bem alto astral, uma coisa boa, de estar vivendo de música e se conectando com pessoas de quem a gente gosta e que gostam da gente. Ela veio com essa coisa da felicidade ampla, da vida, do profissional. Foi muito rápido, eu escrevi a música inteira. Então, uma faixa que era para ser dessa menina, ficou para a gente mesmo, e eu já sabia que ela tinha a assinatura dos Gilsons. Ela tem uma coisa de ser bem complementar a ‘Pra Gente Acordar’, é o sentimento dentro dessa utopia, dessa realidade que a gente fala.” “Voltar à Bahia” Fran: “Ela diz por si só e aprofunda: é o voltar à Bahia literal, da saudade, de que a letra fala. Eu fiz com a Clara Buarque, a primeira música dela, em um domingo em que estávamos juntos falando da Bahia. No caso dos Gilsons, ela é muito especial porque a nossa relação com a música é da Bahia, do Carnaval, dos cheiros, gostos e sensações. A música então fala também de um resgate das nossas raízes. É muito simbólico terminar o álbum com ela, é ser grato por termos chegado até aqui. E tivemos a honra de ter Jaques Morelenbaum fazendo o arranjo de cordas.” João: “Essa saudade da Bahia é de todos nós.”

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