“A vida seria melhor se fosse um grande pagode”, brinca Péricles, ex-integrante do Exaltasamba, ao falar da sua devoção ao gênero musical. “O pagode é união, é alegria, é um ajudando o outro, sentindo a dor do outro”. No álbum Pagode do Pericão II, o sambista paulista conta com participações de Mumuzinho, Marvvila e Xande de Pilares e homenageia compositores que fizeram parte de sua trajetória, como Marília Mendonça, Arlindo Cruz e Sombrinha. O projeto foi gravado em maio de 2022 no Classic Hall, em Recife; o tempo longe dos palcos devido à pandemia do coronavírus tornou o reencontro com o público ainda mais significativo. O álbum tem uma atmosfera de baile, de amizade e de celebração. A seguir, o artista fala sobre cada uma das faixas de Pagode do Pericão II, Pt. 2 (Ao Vivo). Já Virou Rotina “Esta música é curiosa, ainda tem um apelo gigantesco no pagode. Foi o primeiro grande sucesso da Turma do Pagode, já faz mais de 15 anos. Toda vez que toca, a galera ama. A nossa ideia para o Pagode do Pericão II era interpretar músicas que já são sucessos, mas com a nossa releitura. A composição é do André Renato e do Ronaldo Barcellos, que são parceiros e grandes amigos. Eu sempre tenho um cuidado imenso ao fazer uma releitura, para que ela não perca a característica do primeiro registro, mas que também tenha um pouco do meu jeito.” Apanhando da Saudade “É uma daquelas músicas pelas quais a gente tem um xodó imenso. É do Rodrigo Oliveira, que é um grande compositor. E ele não compõe só samba, compõe tudo muito bem. O pagode é a síntese do que a gente vive, e ‘Apanhando da Saudade’ é isso. Alguém que está longe do seu amor e, quando falam da pessoa, volta para a estaca zero.” Lucidez “Eu tenho uma história muito bacana com ‘Lucidez’. Eu participei do Sambabook Jorge Aragão há alguns anos e tive a honra de tocar com o Cléber Augusto, o outro parceiro desta música. Foi difícil cantar sem chorar! Foi emocionante demais. E eu me lembro da primeira vez que eu ouvi a gravação com o Fundo de Quintal. Eu demorei um tempo pra voltar ao normal. Eu me emociono toda vez que me lembro. O arranjo é muito bonito e todo mundo cantou e tocou muito bem. Eu tenho até hoje guardado no meu coração o registro dessa primeira imagem. ‘Lucidez’ não pode faltar em pagode nenhum. Foi uma maneira de homenagear também os 45 anos do Fundo de Quintal.” Pensamento Verde “É um clássico. Há um bom tempo que a gente curte e toca esta música, principalmente em São Paulo, onde ainda tem a tradição dos bailes. Nas festas da zona norte e da zona sul, músicas como ‘Pensamento Verde’ são essenciais. É de Antônio Scarpellini e J. Velloso. ‘Pensamento Verde’ é uma homenagem a quem gosta daqueles balanços do Bebeto, Jorge Ben Jor, Joãozinho Carnavalesco, Trio Mocotó e Almir Borges – e, é claro, aos meus amigos do Molejão. Como havíamos gravado ‘Cilada’ no primeiro Pagode do Pericão, a gente gravou agora esta música, em homenagem ao Molejão também.” Brasa “Para ‘Brasa’, eu chamei o Xande de Pilares pra cantar comigo. É uma música de Claudemir e Thiago Alexandre. Retrata exatamente o que é um churrasco na laje em um final de semana no Brasil. Quando a gente pensa que acabou, começa tudo de novo. É uma música linda, muito para cima e, como diz a última frase, ‘a brasa não deixa a fogueira apagar’. Isso é que é pagode!” Estrela da Paz “Outra clássica! Foi um sucesso com o Soweto, com o Belo cantando maravilhosamente bem. E eu também participei de um álbum ao vivo do Arlindo Cruz e Sombrinha, em que eles gravaram ‘Estrela da Paz’ com um solo de bandolim do Sombrinha. Esta música é um sonho! Desde que ela foi lançada, em 1998, toca em todos os pagodes e a galera canta junto. É um dos grandes sucessos do Arlindo Cruz em parceria com o seu irmão Acyr Marques, que fizeram obras lindíssimas.” Num Corpo Só “Mais uma do Arlindo Cruz que não pode faltar. Esta música virou um grande sucesso na voz da Maria Rita. Eu me lembro de que a gente quase a gravou na época do Exaltasamba mas, no final, é a música que escolhe, né? E a Maria Rita a defendeu brilhantemente. Eu tenho orgulho de colocar a nossa versão no Pagode para todo mundo cantar. Espero que a Maria goste também, porque ela adora cair no pagode com a gente.” Dupla de Invejar Fala de uma dupla especial, que está bem em qualquer momento da vida. É uma homenagem aos casais mais malucos de todos os tempos. De antes, de hoje e dos que virão. Esta música é outro xodozinho meu. É mais uma daquelas que falam de amor para todo mundo dançar.” Graveto “É uma homenagem à vida e à obra da Marília Mendonça. A gente teve pouquíssimo tempo de convivência, bem menos do que eu gostaria, mas toda vez que a gente se encontrava, era uma grande festa. Gravar ‘Graveto’ no Pagode é uma maneira de lembra dela.” Gandaia “Esta música é do Leandro Lehart, Evandro e Malli, integrantes do Art Popular, que também contribuíram muito para a minha trajetória. Agradeço a eles eternamente. E esta música a gente gravou em 1994 com o Exaltasamba. Recentemente eu participei de uma gravação dela com a Turma do Pagode. É mais uma daquelas que eu tenho certeza de que todo pagodeiro – ou todo fã do Péricles ou do Exaltasamba – esperava muito.” Pagode Puro “Esta é para jogar para cima! Aquele pagode bom, de mão na roda. É como a gente imagina o Pagode do Pericão. ‘Gandaia’ já tem esse viés, e no ‘Pagode Puro’, de Ederson Santos e Jorge Sargento, cantam comigo Marvvila, Xande de Pilares e Mumuzinho. O Ederson já tinha contribuído no álbum Céu Lilás com a música ‘O Que Falta pra Gente Formar’, que caberia tranquilamente no Pagode do Pericão, porque é esse pagode na palma da mão, de todo mundo cantando junto.”