Sambasá

Sambasá

Roberta Sá tem nos ritmos brasileiros seu espaço de expressão e reflexão. As referências que permeiam a trajetória da artista são saudadas em Sambasá, álbum que traz sete músicas, das quais três são inéditas. Durante a produção do trabalho, a artista potiguar ficou grávida e a levou a traduzir em sua arte a exaltação ao amor e à esperança. “Me apaixonei e engravidei. Eu estou neste momento, isso está muito latente em mim. Hoje em dia, amar é também um ato de resistência”, diz a cantora ao Apple Music. O álbum começou a ser idealizado junto com sua volta aos palcos, após o período de isolamento durante a pandemia de Covid-19. “O Sambasá nasceu de uma necessidade de catarse no pós-pandemia. Montei um show com vários sambas de que eu gostava, além dos que eu já havia gravado durante a minha carreira.” Para o repertório, o ponto de partida foi justamente o que ela já vinha fazendo em suas apresentações e nas rodas de samba. “Eu sei muito bem o que eu quero dizer e o que não cabe na minha boca. Geralmente, quando eu encontro a composição certa, sinto que preciso gravá-la. É natural”, diz Sá. O novo álbum traz participações de grandes sambistas, como Péricles em “Sufoco” (eternizada na voz de Alcione), e Zeca Pagodinho em “Pago Pra Ver”, de Nelson Rufino e Toninho Geraes. A seguir, a cantora comenta as faixas de Sambasá: Sem Avisar “‘Sem Avisar’ foi escrita pelo Wanderley Monteiro, que é um grande compositor e amigo, pai do Alan Monteiro, meu diretor musical. Tive uma conversa aberta com ele sobre o que eu queria: achar uma música sobre um amor que dá certo, porque geralmente os sambas trazem desilusões. E é tão bom quando a gente encontra um samba de um amor feliz. Tem um verso de que eu gosto muito: ‘Em silêncio me invadiu e logo fez morada/ Tomou para si o que era só meu’. Isso tem a ver com maternidade e paternidade vividas em suas plenas potências. É sobre entender que agora não é somente você no mundo – tem mais uma pessoa para cuidar, para se preocupar e somar.” Luz da Minha Vida “Sempre quis gravar alguma coisa do Toninho Geraes, e esta parceria dele com Chico Alves caiu como uma luva. Flerta com o samba do Recôncavo Baiano, que eu também adoro, indo para um lugar mais romântico. É como se ela falasse de um primeiro encontro. ‘Você é o amor da minha vida/ E o seu grande amor sou eu.’ É solar e para cantar de peito aberto. O samba tem muito isto: o público canta junto com a gente, com amor e comunhão. Tem essa função de abraçar. Depois do momento mais grave da pandemia, a necessidade de alegria ficou mais latente. A gente está precisando de felicidade.” Nossos Planos “É uma música que eu gosto muito. É a que mais foge do que eu já fiz até então. Vejo isso de uma maneira positiva, porque o meu público jamais imaginou que eu gravaria algo assim. Fala sobre quando a gente se cansa de viver um relacionamento abusivo e pensa: ‘Foi você que fez com que eu não o quisesse mais.’ Mas tudo bem, a vida segue. Traz o poder feminino. Eu gosto desse lugar de força das mulheres no samba. Temos as nossas grandes representantes como Beth Carvalho e Alcione. É para as mulheres dizerem ‘não’ às relações abusivas.” Pago Pra Ver “Também é do Toninho Geraes, agora com o Nelson Rufino. Quando eu chamei o Zeca [Pagodinho] para cantar, ele falou: ‘Se você puder escolher alguma coisa do meu repertório para a gente cantar junto, eu vou adorar’. E eu sou fã do Zeca desde antes de ser cantora, então a amizade dele é um presente. O jeito de ele cantar é uma aula. E tê-lo em um álbum de samba é uma espécie de apadrinhamento, me sinto privilegiada por isso. ‘Pago Pra Ver’ fala de amor e de reconstrução. Esta frase é muito forte: ‘Vou refazer minha vida, mudar o meu telefone, cicatrizar a ferida, tirar o seu sobrenome’. É sobre realmente partir. E tem uma melodia linda, especial.” Antes Tarde “‘Quero beijar teu beijo!’ Eu adoro isso! Remete ao carnaval e ao cheiro de cerveja na rua. É sobre encontrar aquele crush e finalmente dar o beijo que você queria faz tempo. Fala sobre tesão, sobre conquista. Foge um pouco do amor romântico tão presente no restante do álbum. Também tem a ver com a coletividade e com as relações efêmeras, com a libertinagem. Eu gosto disso também, é divertido e fundamental na vida.” Sufoco “Foi quase uma ousadia regravar esta música. Eu amo tanto a versão da Alcione! Mas a ideia de cantar com Péricles, que tem uma voz emblemática, tornou essa missão diferente. Eu sempre tive um preciosismo em fazer regravações de músicas muito conhecidas. Mas mudei um pouquinho esse olhar porque percebi, com o tempo, que muitas pessoas das gerações atuais não conhecem coisas que, para mim, podem ser mais óbvias. É uma homenagem à Alcione, que é uma referência de mulher e de poder feminino.” A Roda “É do Wanderley Monteiro e do Deco Romani. Ela amarrou o conceito do álbum, porque todas estas músicas cabem em uma roda de samba. E eu acho muito lindo quando diz: ‘A roda é a forma ancestral/ É a marca que fica no chão/ O samba é a nata, é o topo da evolução’. Quem vive no samba sabe que ele é uma família agregadora. A roda é onde tudo acontece, é onde os compositores mostram suas criações, é cura, é felicidade. O samba é um antídoto para o racismo, para a intolerância e para o machismo, porque há muitas mulheres tocando instrumentos também. A roda é saúde mental, encontro, troca e afeto. É cultura, reflexão e resistência.”

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