Nenhuma Estrela

Nenhuma Estrela

A banda paulistana de rock alternativo Terno Rei completa 15 anos de carreira e apresenta o seu quinto álbum de estúdio, Nenhuma Estrela (Balaclava Records), com participação especial do mineiro Lô Borges e produzido pelo multi-instrumentista Gustavo Schirmer, responsável pelos dois últimos álbuns do quarteto, Violeta (2019) e Gêmeos (2022). “Nenhuma Estrela é mais noturno, tanto do ponto de vista musical quanto das letras. Ele fala sobre amadurecimento, mas não é monotemático. Tem movimento e cor e abre espaço para o efêmero e a esperança”, diz o compositor, vocalista e baixista Ale Sater ao Apple Music. Este álbum – mixado pelo francês Nicolas Vernhes, que trabalhou com bandas como The War on Drugs, Wild Nothing e Deerhunter – também marca uma fase sólida e, ao mesmo tempo, reflexiva do Terno Rei. “O nome do álbum tem um ar meio Guilherme Arantes, meio Flávio Venturini. Também tem a ver com o céu denso de São Paulo. É a nossa capa mais escura até aqui, mas também há amplidão e pontos coloridos que representam novos caminhos. Evoluímos muito como banda e isso aparece no álbum”, diz Sater. A seguir, ele comenta as faixas de Nenhuma Estrela. Peito “Ela foi escolhida para abrir o álbum por ter uma introdução extensa. Tem um violão cortante e uma melodia bonita. O final se expande com um slap [técnica que extrai um som percussivo das cordas] no baixo e instrumentos misturados. Os tons da bateria ficaram legais, e no meio da música tem uma virada que se destaca. O saxofone conversa com a melodia da voz – ficou meio anos 80, meio Phil Collins, mas com gosto de 2025.” Nada Igual “Este é o primeiro single do álbum e resume quem somos como banda. Talvez seja o som mais rock que a gente já fez. A linha de baixo desenha a música e tem muito dos Smiths. A execução da bateria ficou incrível, junto com umas 20 camadas de guitarra e um final poderoso. ‘Há tempos que eu já não mais me iludo/ Mas eu preciso sonhar/ Como eu preciso do sol.’ Ela trata do desejo de se emocionar com a vida, mesmo na maturidade. É paulistana, urbana e melancólica.” Nenhuma Estrela “É uma música melodiosa e introspectiva, com um riff de guitarra misterioso e uma estrutura crescente. O refrão acontece no final, o que torna a música menos pop. ‘Nenhuma estrela na longa estrada vai me guiar’: é uma ideia forte. Às vezes você tem que tomar decisões sozinho e seguir os seus instintos. Uma das referências é a música ‘All Flowers In Time Bend Towards The Sun’, de Jeff Buckley e Elizabeth Fraser, que tocou na cerimônia do meu casamento.” Próxima Parada “Esta é a faixa a que mais se difere de tudo o que a gente sempre fez. É espontânea e traz uma sequência de MPC utilizada em milhares de produções. É um trip-hop acelerado. Tanto na melodia da voz quanto nos arranjos de cordas, ela soa meio grunge dos anos 90. Além disso, tem muitos sintetizadores. A principal referência é uma banda britânica chamada Wu-Lu, que é pouco conhecida, mas foi elogiada pelo Damon Albarn em uma entrevista ao Apple Music.” Casa Vazia “É uma música mais leve, solar e direta, sem tanta densidade. Tem referências de The Cure, com um arranjo de piano bonito e uma guitarra pegajosa. Também fiz modificações nos meus vocais. A letra foi feita para o meu cachorro. É sobre a sensação de dó ao chegar em casa depois de deixar o bichinho sozinho por muitas horas. Traz o olhar do cachorro, do tédio e da solidão dele.” Relógio (feat. Lô Borges) “Assim como ‘Próxima Parada’, a faixa surge a partir de um sample de bateria. É cerebral e cheia de acordes, nada se repete na estrutura da música. Mas, mesmo assim, ela consegue ser agradável. Mandei a composição para o Lô Borges, que gravou rapidamente. Ficou perfeito! Lembra Clube da Esquina, especialmente nas sétimas e nas harmonias. Também tem referências contemporâneas, como Connan Mockasin e Man I Trust. Eu ando muito de bicicleta, então ela remete às cores da cidade, ao relógio. É sobre o efêmero.” Pega “Esta música é mais soturna, tem um lance meio ritual de magia. A bateria é marcante e está à frente de todo o resto na mixagem. Também é cerebral, com pouca mudança de notas, o que gera um certo desconforto. Há bastante sintetizadores e trocas de acorde e de dinâmica. Já a voz é linear, sem muitos altos e baixos. É meio imprevisível, algo que eu adoro. As guitarras do refrão lembram o álbum In Rainbows [2007], do Radiohead, que é fonte importante de criatividade para nós.” Programação Normal “É uma música imagética e de estrada. As harmonias e os vocais de apoio são coloridos e cheios de camadas, o que confere uma dinâmica à mixagem. Ela tem referências do final dos anos 90 e início dos 2000, com um refrão pegajoso, distorções de guitarra e bastante violão – ela lembra a sonoridade do nosso quarto álbum, Gêmeos, que é mais roqueiro. A bateria está em destaque também. É o início do lado B do álbum.” 32 “Esta faixa é uma boa continuação de ‘Programação Normal’. É a primeira música que a gente fez sem bateria na história da banda. É mais contemplativa, mais ‘canção’, e fala sobre amadurecer. São umas quatro vozes bem intensas. Na mixagem, Gustavo Schirmer criou movimentos: ora uma voz surge na diagonal esquerda, ora aparece outra à direita. A base dela são dois violões e um baixo, mas usamos também sanfona, guitarra desafinada e piano. Há momentos e elementos que são um carinho para o ouvido e que combinam com o que a letra transmite.” Coração Partido “A composição é minha e do Bruno Paschoal e fala sobre levar um fora e achar que a vida vai acabar, algo bem adolescente. Temas ligados a relacionamentos são recorrentes na nossa música, mas com energia e uma certa esperança. A faixa lembra Goo Goo Dolls com um ar dos anos 2000. O instrumental é para cima e a letra é para baixo. A produção é perfeitinha, cheia de riffs de guitarra, violino e dobra de vozes.” Tempo “É a faixa mais ousada e pop do álbum. Ela é pulsante e flerta com música eletrônica e indie rock. Originalmente ela era toda eletrônica, mas incluímos instrumentos ao gravar, como corneta, guitarras, baixo, bateria, violão de nylon, além de sintetizadores. O refrão tem uma melodia forte. A mineira Clara Borges, da banda Paira, canta com uma suavidade delicada, e a voz dela contrasta levemente com a minha. O final é transcendental e relaxante.” Viver de Amor “É a minha música favorita do álbum: obscura, cinematográfica e com um pouco de raiva, como ‘Próxima Parada’. Ela tem uma atmosfera meio [da série] True Detective e diz: ‘Pra viver de amor/ Vou morrer de amor’. Eu gosto da letra por ser simples e significativa. Acho que quanto mais você ouve a música, mais detalhes você percebe e curte.” Acordo “Esta faixa lembra outras músicas nossas, como ‘Yoko’ [do álbum Violeta], que é o nosso maior sucesso. É um folk indie sem refrão definido e com referências de The War on Drugs e Elliott Smith. Ela conta uma história, por isso tem esse lado folk, com bastante guitarra e violão. A letra é bem especial e traz uma ideia de perseguição no final, algo que aparece em vários momentos do álbum: ‘Eles querem me acusar de uma coisa que eu não sou/ De um roubo que eu não fiz/ De palavras que eu não cantei.’ É um ótimo jeito de encerrar Nenhuma Estrela.”

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