Jobim Canção

Jobim Canção

Paula Morelenbaum e Arthur Nestrovski reverenciam Tom Jobim (1927-1994) com o álbum Jobim Canção, lançado três décadas após a morte do maestro carioca. Os dois artistas têm grande familiaridade com a obra do compositor: Morelembaum cantou na Nova Banda, grupo que acompanhou Jobim por uma década, e Nestrovski é o intérprete de Jobim Violão (2009), álbum celebrado por entusiastas do instrumento e fãs do compositor. A ideia de criar Jobim Canção surgiu após uma série de videoaulas ministradas pela dupla, intitulada “A Longa Arte de Tom Jobim”, realizada em 2024. “Cada faixa é uma lição de composição, e as peculiaridades se tornam mais transparentes com a nudez da voz e do violão. Morelenbaum é uma das cantoras de Jobim e interpreta cada sílaba com perfeição. E ainda temos a participação ilustre do violonista João Camarero e do baterista Marcelo Costa”, diz o gaúcho Nestrovski ao Apple Music. Jobim Canção apresenta dez faixas que abrangem as cinco décadas de produção do compositor. “O repertório traz músicas que eu nunca havia gravado. Isso foi importante para mim. Fazer esta homenagem com o Nestrovski é celestial, pois ele toca todas as notas do piano no violão, seguindo a partitura em detalhes”, diz a carioca Morelenbaum. A seguir, ela e Nestrovski comentam cada faixa de Jobim Canção. Passarim Paula Morelenbaum: “Esta é a música que dá nome ao primeiro álbum que eu gravei com Tom Jobim [de 1987]. Acompanhei o processo de criação, a gente ensaiava na casa dele, era muito prazeroso. Esta é uma música linda, mas difícil de cantar. O Nestrovski fez alterações no tom para torná-la mais cantável. Ela trata de ecologia, por isso achei importante entrar no álbum.” Arthur Nestrovski: “Tom Jobim foi pioneiro na causa ecológica. Ele defendia a preservação da mata atlântica e da floresta amazônica nos anos 70, quando pouca gente falava sobre isso. ‘Passarim’ também tem uma conexão pessoal para mim, pois foi tema da minissérie O Tempo e o Vento [1985], inspirada no livro O Continente - vol. 1 [1949], do gaúcho Erico Verissimo.” Caminhos Cruzados Nestrovski: “Esta música se tornou conhecida na voz de João Gilberto. Ela pertence a um período marcante da cultura brasileira, mas que durou apenas cinco anos, em que Jobim fez todas as suas composições de bossa nova. É uma parceria de Jobim com o pianista Newton Mendonça. Aqui eu cometi a ousadia de cantar com a Morelenbaum.” Morelenbaum: “É uma das músicas do Jobim que eu mais adoro. É uma típica bossa nova.” Nestrovski: “E o Marcelo Costa fez um ritmo suave com a vassourinha que ficou lindo.” Wave Nestrovski: “Este é o clássico dos clássicos. Chico Buarque fez só o primeiro verso, ‘Vou te contar.’ Eles já eram parceiros de composição há tempos, mas todo o resto da letra é do Jobim. ‘Wave’ é grandiosa. Você pode escutar várias vezes e descobrir novas riquezas.” Morelenbaum: “A gente pode ouvi-la e cantá-la a vida inteira. Também acho interessante a faixa terminar com ‘Vou te contar...’, que é a única frase que o Chico Buarque fez.” Você Vai Ver Nestrovski: “Esta faixa é uma bossa nova tardia. É como se fosse uma homenagem ao período, só que 20 anos depois. Ela surge após a convivência com Chico Buarque, cujas lições foram fundamentais para Jobim.” Morelenbaum: “A letra já não é aquela bossa nova que fala do mar e da beleza feminina. A poesia não é tão afetuosa, existe uma certa raiva. Mas, ao mesmo tempo, tem leveza.” Piano Na Mangueira Nestrovski: “Ela foi lançada no ano em que Jobim morreu [1994], no álbum Antonio Brasileiro. É um samba feito com Chico Buarque em agradecimento à Mangueira, por sua homenagem a Jobim. A gravação cumpre tanto o que está na partitura de Jobim quanto o protocolo rítmico da Mangueira.” Morelenbaum: “Eu e as meninas da Nova Banda desfilamos com o Tom Jobim na Mangueira e me lembro de que ele ficou com medo de subir no carro alegórico. Esta música foi gravada por muita gente, mas na minha versão, de 1992, o próprio Jobim tocou piano e cantou um pouquinho.” Nuvens Douradas Nestrovski: “É o meu único solo de violão, também uma espécie de aceno ao meu álbum Jobim Violão. ‘Nuvens Douradas’ é uma peça instrumental que integra Matita Perê [1973], um dos meus álbuns favoritos do Jobim. Mais uma vez, fui fiel à partitura de piano, incluindo tudo o que foi possível no violão, sem alteração ou improviso.” Morelenbaum: “Achei importante ter um solo do Nestrovski. É claro que o resultado ficou lindo.” Cala, Meu Amor Nestrovski: “É um samba-canção de 1958 que estava esquecido e nós resgatamos. Recuperar esta composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes é uma contribuição à música brasileira.” Morelenbaum: “Nós também incluímos um intermezzo instrumental que está na gravação original. Ficou lindo.” Nestrovski: “Sim. É um acompanhamento orquestral que não estava na partitura. Fiz a partir da gravação e segui as modulações que o Jobim criou.” Eu Não Existo Sem Você Morelenbaum: “Esta música também é de 1958 e é uma das mais lindas do Jobim. Convidamos José Miguel Wisnik, nosso parceiro musical de longa data, para participar dos vocais. É uma música de poeta, parece que foi feita para o Wisnik cantar.” Nestrovski: “Em 2013, no centenário de Vinicius de Moraes, Morelenbaum, Wisnik e eu interpretamos esta faixa em um projeto de aula-show. Wisnik tem uma capacidade de expressão única e profunda. É uma composição simples, direta e das mais arrasadoras de Jobim.” Gabriela Nestrovski: “É uma suíte gravada em formato inédito. Eu e o João Camarero dividimos a partitura em dois violões. Tocamos todas as notas do início ao fim. Camarero brilhou.” Morelenbaum: “O resultado ficou um absurdo de lindo.” Pois É Nestrovski: “Esta é uma das três primeiras parcerias de Chico Buarque com Jobim. Foi gravada em Elis & Tom [1974] e se distancia da bossa nova. A letra original foi modificada na época, provavelmente pelo próprio Jobim, e todos que a interpretaram depois seguiram a versão dele. Aqui nós resgatamos a poesia original de Chico Buarque.” Morelenbaum: “Foi a primeira vez que eu gravei esta música. Achei incrível estar acompanhada somente do violão. É uma composição dura e triste, algo que eu adoro interpretar. Mas foi um desafio como cantora, pois já existem gravações antológicas de nomes como Elis Regina, Gal Costa e Nana Caymmi. É uma música forte e perfeita para fechar o álbum.”

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