Nelson Freire foi um dos grandes nomes do piano. Nascido em 1944 em Boa Esperança, Minas Gerais, Freire fez seu primeiro recital público aos cinco anos de idade. A partir daí, nada pareceu detê-lo. Prêmios em competições e o aprendizado com mestres lendários o transformaram em um músico atencioso, com uma sensibilidade rara e uma abrangência dinâmica, admirada por seus colegas pianistas. Neste álbum em que comemorou seus 70 anos de carreira, Freire prestou homenagem a alguns dos pianistas mais renomados do início do século XX, incluindo a brasileira Guiomar Novaes, o virtuoso extraordinário Leopold Godowsky e o magistral Arthur Rubinstein. Ele também nos levou de volta à sua infância, com obras que o cativaram enquanto jovem e que abriram caminho para uma brilhante carreira musical. Confira abaixo um faixa a faixa com as obras que Nelson Freire escolheu para tocar. Orfeo ed Euridice, Wq 30 Melodie (Arr. Sgambati) De Christoph Willibald Gluck "Se há uma obra que parece totalmente mágica, é esta. Já a toquei muitas e muitas vezes no bis. Hoje em dia, quase parece tocar sozinha. Já foi muito popular no palco: a grande pianista brasileira Guiomar Novaes a interpretava – Rachmaninoff também. E então foi esquecida. Hoje em dia mais jovens estão descobrindo-a.” Hornpipe in E Minor, Z.T685 De Henry Purcell “Eu também conheci essa hornpipe através de Guiomar Novaes. Ela a tocou no bis no Queen Elizabeth Hall, em Londres, em 1967. Eu estava lá. Ela queria fazer algum tipo de menção à Inglaterra, então ela tocou esta obra encantadora e simples de Henry Purcell. O público adora.” Sonata in D Minor, K. 64, and Sonata in B Minor, K. 377 De Domenico Scarlatti “Incluí estas duas sonatas porque queria prestar homenagem ao meu passado, não apenas aos pianistas históricos. Toquei as duas em recitais quando eu era muito jovem, quando tinha cerca de dez anos. Então senti que era importante incluí-las aqui.” Aspirations, Op. 39: 1. Vers l’azur De Zygmunt Stojowski “Conheci Stojowski, mais uma vez, através de Novaes. Quando ela chegou a Nova York, na primeira metade do século 20, queria estudar com o grande pianista Paderewski, mas, como ele estava viajando muito, ele sugeriu Stojowski a ela. Quando Novaes morreu, recebi muitas partituras suas, e uma delas era de "Vers l'azur", de Stojowski. Ele é um compositor pouco lembrado agora, mas esta pequena obra é muito bonita.” Miscellanea, Op. 16: 4. Nocturne in B-Flat Major De Ignacy Jan Paderewski “O noturno de Paderewski é uma pequena obra, bela e suave. Durante anos, foi completamente esquecida, mas acho que as pessoas agora estão começando a tocá-la mais. Esta é mais uma homenagem minha a Guiomar Novaes, que gravou a obra na década de 1920. Eu tenho em casa, é uma gravação maravilhosa.” 6 Lieder, Op. 17, TrV 149: 2. Ständchen (Arr. Godowsky) De Richard Strauss “Há uma gravação de Novaes em 1957 tocando-a –– é uma das melhores dela, e o que ela faz com a música é realmente uma obra de arte. Está claro por que ela era considerada integrante da era de ouro dos pianistas. O arranjo de Godowsky de "Ständchen", de Richard Strauss, é maravilhoso." Lyric Pieces De Edvard Grieg "Gosto de tocar as Lyric Pieces sempre que estou ao piano, embora ainda não tenha tocado muitas delas em público. Eu as amo tanto –– elas são tão despretensiosas, inspiradoras e cheias de personalidade e inspiração. Me apaixonei pela primeira vez pelas obras para piano de Grieg depois de ouvir o grande pianista Walter Gieseking tocá-las.” Melody in F, Op. 3, No. 1 De Anton Rubinstein "Eu conheço a 'Melody' de Rubinstein graças a uma gravação de Josef Hofmann. É uma melodia muito popular --mesmo quem não vai a concertos talvez a conheça. É uma obra adorável. A pupila de Hofmann, Shura Cherkassky, também tem uma gravação maravilhosa dela.” 2 Poèmes, Op. 32: 1. Poème in F-Sharp Major De Alexander Scriabin "‘Poème’", de Scriabin, é a minha modesta homenagem ao pianista Vladimir Horowitz. É uma obra muito sensual, com muita personalidade. Eu adoro.” 13 Preludes, Op. 32 De Sergei Rachmaninoff “Eu toquei dois destes prelúdios em uma apresentação no Rio de Janeiro quando eu era jovem. Acho que à medida que envelheço me aproximo dos meus anos de juventude. Quase parece que o passado está pregando uma peça em você.” 3 Fantastic Dances, Op. 5 De Dmitri Shostakovich “Eu tinha um professor muito bom no Brasil que sempre quis que eu tocasse diferentes estilos de música. Toquei estas três obras aos sete anos, acho, no meu primeiro recital no Rio, além de Mozart e Chopin. Shostakovich era bastante moderno para mim naquela época! Um amigo meu me ouviu tocar recentemente e disse: 'Você toca como uma criança'. Porque é uma obra que pertence à minha infância.” Goyescas - Suite: 4. Quejas ó la maja y el ruiseñor De Enrique Granados “Rubinstein tocava muito esta obra. É uma obra que minha professora me deu quando fui a Viena. Ela escreveu uma dedicatória na partitura: 'Nelson, esta obra foi escrita para você'. E esse era um lembrete constante de que eu tinha que tocá-la. É por isso que está neste álbum.” Scènes d’enfants: 5. Jeunes filles au jardin De Federico Mompou “Minha professora no Brasil, Nise Obino, tocava esta obra, e é claro que eu queria tocar todas as obras que ela tocava. Em 1959, Mompou esteve no Brasil e pedi para ele autografar minha partitura. Ele me disse que havia composto tantas obras, mas que as pessoas só conheciam essa!” España, Op. 165: Tango in D Major (Arr. Godowsky) and Navarra (Compl. Sévérac) De Isaac Albéniz “Novaes gravou o tango na década de 1920 e adorei quando o ouvi, e agora o toco com frequência no bis. O arranjo de Godowsky é sofisticado, mas também muito bonito. É um dos melhores dele. 'Navarra' era uma das obras mais conhecidas de Rubinstein --eu comecei a tocá-la aos 13 anos. Não a tocava muito no bis, mas lembro que em Paris eu toquei ‘Nights in the Gardens of Spain’, de Falla, e, porque ela termina tão silenciosamente, eu tive que tocar outra coisa. Então 'Navarra' se tornou parte do meu repertório de bis!”