Chrome Dreams

Chrome Dreams

De acordo com o produtor David Briggs, gravar com Neil Young em meados dos anos 70 parecia mais uma sessão espírita. Ele chegava sem um planejamento, encarava Briggs por 20 minutos ou mais e começava a tocar “Pocahontas”, “Powderfinger” e “Captain Kennedy”, tesouros escondidos no seu vasto catálogo. Assim como as músicas lançadas tardiamente no álbum Hitchhiker (2017), várias faixas de Chrome Dreams (2023) – originalmente de 1977 e engavetado há muito tempo – foram feitas no Indigo Ranch, em Malibu. Segundo o dono do local, o engenheiro de som Richard Kaplan, Young sempre estava lá nas noites de lua cheia. Ouça atentamente “Will to Love”, que ele começou a criar em casa, e é possível escutar a lareira crepitando.Os fãs vão reconhecer boa parte do material logo de cara, embora com ligeiras diferenças: uma versão mais lenta e difusa de “Sedan Delivery” (que saiu originalmente das sessões do álbum Zuma, de 1975, mas foi lançada em Rust Never Sleeps, de 1979) e outra de “Hold Back the Tears”, mas sem aquele toque característico de Nashville. Após deixar os companheiros Crosby, Stills e Nash (ele mandou o seguinte telegrama para Stephen Stills depois de abandonar a turnê que estavam fazendo juntos: “Caro Stephen, engraçado como as coisas que começam espontaneamente terminam do mesmo jeito. Coma um pêssego, Neil”) e depois de lançar grandes obras com o Crazy Horse, ele voltou à solidão sempre implícita na sua música – estando acompanhado ou não. Seus sonhos são americanos (um bate-papo sobre o estádio Astrodome com Marlon Brando e Pocahontas) e sua paixão tão silenciosamente intensa que nos faz considerar uma medida cautelar: “Look out for my love/ It’s in your neighborhood” [“Cuidado com o meu amor/ Ele está no seu bairro”], da faixa “Look Out for My Love”, é uma promessa, não uma ameaça. Historicamente, Chrome Dreams funciona como uma trama que conecta a fase nebulosa de Young do começo ao meio dos anos 70 ao seu retorno às raízes em Comes a Time (1978) e Hawks & Doves (1980), além de afirmar o status do músico como precursor de artistas do indie-folk, como Elliot Smith e Bon Iver. Se pode soar estranho lançar um álbum quase 50 anos depois de decidir não o lançar, a limpa nas gavetas neste estágio da carreira parece fazer parte da mesma honestidade crua que torna sua música tão penetrante. Young não prometeu que seria tudo fantástico, como ele disse certa vez – só que seria o que era.

Videoclipes

Selecionar um país ou região

África, Oriente Médio e Índia

Ásia‑Pacífico

Europa

América Latina e Caribe

Estados Unidos e Canadá