Acústico Capital Inicial (Ao Vivo)

Acústico Capital Inicial (Ao Vivo)

No dia 21 de março de 2000, o Capital Inicial começou a reescrever a sua própria história na música brasileira. Em apenas uma sessão no Teatro Mars, em São Paulo, Dinho Ouro Preto, Loro Jones (violões e vocais), Flávio Lemos (baixolão) e Fê Lemos (bateria) gravaram o mais bem-sucedido álbum da banda, Acústico MTV - Capital Inicial, que colocou o grupo de Brasília em outro patamar no rock nacional. O álbum acústico se tornou um fenômeno no Brasil, com mais de 1 milhão de cópias vendidas ao longo dos anos. Antes de o projeto com a MTV nascer, mais precisamente em 1998, o Capital Inicial retomava a a carreira com a volta de Dinho Ouro Preto ao grupo, depois que o cantor passou quatro anos e meio em carreira solo. “Num primeiro momento, o prognóstico era muito modesto. O Capital estava comemorando 15 anos desde que eu entrei para a banda e, dois anos antes, tinha sido lançada uma coletânea. Ninguém tinha nos consultado sobre essa coletânea, que é lançada pela PolyGram e vai bem. Mesmo a banda não estando reunida, sem a gente ter participado desse álbum”, relembra Dinho ao Apple Music. “A ideia da reunião era que aquilo tivesse começo, meio e fim. Que a gente fosse fazer uma turnê para celebrar o repertório do Capital, 15 anos, o rock de Brasília... Era como se a gente não estivesse pensando no que viria a acontecer. E o que aconteceu, na real, desde o primeiro passo dado, é que a gente foi sendo surpreendido seguidas vezes.” Negociação para gravar o Acústico MTV Desse retorno nasceu o álbum Atrás dos Olhos (1998), lançado pela Abril Music, gravadora que fazia parte do Grupo Abril (detentora da MTV Brasil na época). A emissora musical produzia por aqui sua versão do MTV Unplugged, o Acústico MTV. Antes do Capital Inicial, o projeto já acumulava em seu portfólio registros desplugados de grandes nomes da música brasileira como Legião Urbana, Gilberto Gil, Gal Costa, Rita Lee, Titãs e Os Paralamas do Sucesso. Por ser próximo de Titi Civita, um dos cabeças da MTV Brasil e herdeiro do Grupo Abril, Dinho resolveu "oferecer" o Capital Inicial para o projeto. “Lembro de ter uma reunião na casa do Titi, estávamos eu, minha mulher, o Titi e a mulher dele. Falei: ‘Olha, a gente acabou de lançar esse álbum, mas já lançamos um monte de álbuns nos anos 80 e começo dos anos 90, temos material suficiente’. E mesmo assim não foi uma resposta de bate-pronto”, conta o vocalista. “Naquele momento o Acústico MTV era uma coisa de prestígio, os maiores nomes da música brasileira estavam fazendo e, naquele momento, o Capital não estava entre as maiores bandas do Brasil.” Quase na virada do ano de 1999 para 2000, Dinho Ouro Preto foi chamado para uma reunião às pressas sobre a gravação do Acústico MTV - Capital Inicial é confirmada. “Até então, nunca tinha sido envolvido em uma produção tão grande”, explica Dinho, que não fazia ideia do que poderia acontecer com o lançamento do álbum. “Estava todo mundo reticente. Tanto que o Capital foi a única banda que gravou em um dia. Em todos os outros acústicos, o pessoal gravou em pelo menos duas noites.” A partir da confirmação, o Capital Inicial passa os meses de janeiro e fevereiro de 2000 ensaiando diariamente no Teatro Mars, até a véspera da gravação, no dia 21 de março. “Lembro que a gente chegou dias antes da gravação, foi toda a direção da MTV, sentou no teatro vazio e a gente tocou para eles o acústico inteiro. A reação deles não foi, ‘nossa, que sensacional!’. Foi muito bizarro [risos]. Como ninguém tinha pulado de alegria, a gente pensou que o que saísse dali estava bom”, lembra Dinho Ouro Preto. Baixo orçamento e muito nervosismo O investimento para gravar o Acústico MTV - Capital Inicial não foi alto. Segundo Dinho, o registro foi feito em apenas um dia “porque não tinha mais dinheiro”. Por isso, a decisão da banda foi gravar o mais simples possível e, diferente de outros acústicos da MTV Brasil, o do Capital Inicial não tinha produção extra, apenas alguns músicos convidados: Aislan Gomes (piano de armário, órgão, piano elétrico, violão e vocais), Denny Conceição (percussão) e Marcelo Sussekind (violão slide e ebow), que também produziu o álbum. Além deles, houve participações especiais de Kiko Zambianchi, que tocou violão em todas as músicas e ainda excursionou por um ano ao lado do Capital, e Zélia Duncan, que cantou e tocou bandolim em "Eu Vou Estar". “Viajando pelo Brasil, a gente tocava as músicas do Kiko no violão. Tocava ‘Primeiros Erros’, ‘Rolam as Pedras’. A gente queria alguém que imprimisse uma personalidade forte, que tocasse violão, além de a gente gravar a música dele. Kiko participou do projeto inteiro, tocou no álbum de cabo a rabo”, detalha Dinho Ouro Preto sobre o convite a Kiko Zambianchi. Já Zélia Duncan é velha amiga do vocalista desde os tempos do Colégio Marista, em Brasília. “O mais legal é que a Zélia navega no entre o rock e a MPB. A gente queria que alguém saísse do esperado de onde as pessoas achavam que a gente ia, de fora da turma.” O repertório era formado pelos maiores singles do Capital Inicial e duas músicas inéditas: "Tudo Que Vai" e "Natasha". Também tinha "O Passageiro", versão de "The Passenger", de Iggy Pop; e "Primeiros Erros (Chove)", com autoria e participação de Kiko Zambianchi. “Acho que o Teatro Mars devia estar com umas 200 pessoas, era um teatro pequeno. Nunca mais voltei lá para ver como é, mas é muito pequeno. Minha mãe estava na primeira fila [risos]”, remonta Dinho Ouro Preto. Além do clima intimista, muita apreensão e nervosismo pairavam no ar. “Quando o [Marcelo] Sussekind percebeu que estava todo mundo nervoso, ele sentou ali no palco. Ele não iria tocar, iria ficar no caminhão do lado de fora. Ele tinha participado de todos os ensaios, tinha tocado, sugerido arranjos. Quando ele percebeu a intensidade, falou: ‘Deixa eu sentar no meio, vou ser uma espécie de maestro’. Aquilo aconteceu na hora, fomos tocar, colocou um banco, um violão a mais. Ele realmente colocou a bola no chão.” “Quando ouço o álbum e vejo tudo isso hoje, a gravação é extremamente contida, os vocais, tudo mais para trás, não canto mais assim. Eu penso: ‘O que aconteceu aquela noite?’. Ao longo desses 20 anos fui virando uma outra coisa. Isso está presente neste álbum, uma certa calma.” Sucesso de vendas e renascimento do Capital Inicial Dinho Ouro Preto revela que o sucesso de vendas do álbum foi “totalmente orgânico” e gradativo. Começou vendendo 300 mil cópias no primeiro ano, depois subiu para 700 mil cópias vendidas no ano seguinte, até ultrapassar a marca de 1 milhão. Os shows do Capital Inicial também começaram a mudar. No começo da turnê, a banda se apresentava para públicos de 800, 1000 pessoas, em pequenos clubes de cidades do interior. No auge, Dinho conta que a banda chegou a tocar para 80 mil pessoas, batendo recordes de festas de peão e rodeios de cidades como Americana, Londrina e Goiânia. “Fora isso, começou a virar a maior pirataria. A gente via nas estradas pelo Brasil. Era o auge da pirataria. O álbum vendeu 1 milhão e tanto, nem sei dizer o quanto vendeu, na verdade. Não sei em quanto está o número final. Só sei que vendeu muito mais do que isso por causa dos piratas [risos]”, diverte-se Dinho, ao lembrar do momento em que sentiram que o Acústico MTV - Capital Inicial tinha virado um fenômeno. “A única coisa que a gente sabia era o termômetro dos shows. Era algo avassalador, muito grande. Os ingressos sumiam em todos os lugares.” Com o sucesso estrondoso do álbum, o Capital Inicial muda de patamar na música brasileira. Para Dinho Ouro Preto, isso só foi possível porque a banda não se acomodou. “Se a gente estivesse ficado preso naquele momento, o Capital não teria ganhado a proporção que tem hoje. Não teria durado tanto, não teria se transformado em uma das maiores bandas de rock do Brasil. Como nos comportamos depois do estouro é o que acaba determinando o que o Capital é hoje”, argumenta o vocalista, que completa: “Sabia que os deuses estavam me dando uma segunda chance. Tinham me dado um presente inesperado, surpreendente, e que eu tinha que tirar o melhor proveito daquela situação.” Ao ver o impacto do Acústico MTV - Capital Inicial anos depois, não só para banda, mas para a música brasileira, Dinho Ouro Preto é enfático: “É um álbum importante na medida em que ele é influente, inspirou outros músicos, outros gêneros, produtores. Foi copiado, no jeito como é tocado e produzido. É o Capital Inicial tirando o pé do acelerador como nunca antes e nunca depois. O paradoxal da situação é que, quanto mais o Capital tirou o pé do acelerador, mais sucesso ele fez”.

Com participação em

Selecionar um país ou região

África, Oriente Médio e Índia

Ásia‑Pacífico

Europa

América Latina e Caribe

Estados Unidos e Canadá