Ao Redor do Precipício

Ao Redor do Precipício

Aos 58 anos, Frejat está em um dos seus melhores momentos na carreira, e Ao Redor do Precipício é a prova disso. Primeiro álbum solo de estúdio desde Intimidade Entre Estranhos (2008), o músico se cercou novamente de amigos e colaboradores, novos e recorrentes, para entregar 13 faixas que mostram exatamente o momento musical em que ele está vivendo. Para produzir Ao Redor do Precipício, Frejat reuniu Humberto Barros, Kassin e Maurício Negão, que o ajudou a transformar as músicas que ele já tinha em casa em um álbum. “Comecei a sentir que agora era a hora de fazer um álbum, tinha um repertório e, na verdade, tive mais certeza disso quando chamei os meninos, o Kassin, o Humberto e o Maurício Negão para ouvir as músicas e me dizer se eu tinha um EP, se tinha alguns singles ou se tinha um álbum. Eles ouviram tudo e disseram: ‘Cara, a gente tem um álbum’. Aí a gente foi em frente”, conta Frejat ao Apple Music. Ele também foi o elo de ligação entre os três. “Foi bacana, porque também apostei nessa interação pessoal, que acabou criando um núcleo de amigos novos para todos eles. Para mim não, porque todos eram meus amigos. Dentro do trabalho do álbum a gente conviveu muito, curtiu, bateu muito papo, trocou ideias, contou histórias. Cada um tinha uma vivência diferente do outro. Foi bastante gostoso o processo de trabalhar junto.” “Sem falsa modéstia, acho que estou cantando cada vez melhor, não estou dizendo: ‘Sou o melhor cantor do mundo’. Não é nada disso. Em relação a mim mesmo, estou cantando cada vez melhor”, conta Frejat, que nunca parou de lançar novidades para os fãs. “Depois de oito anos lançando essas coisas pontuais, onde é que está você? Assim, de uma maneira maior, em termos de conceito estético, de coisas que você quer fazer, como é que está a tua música? Nesse sentido, acho que este álbum representa exatamente isso. Quando ouço o álbum, falo: ‘Caramba, bicho. Está exatamente como eu gostaria que ele estivesse’.” Além dos três produtores, e da presença do filhos – Rafael Frejat tocando, e Julia Pellegatti Frejat cuidando do projeto gráfico –, Frejat reuniu uma lista extensa de parceiros em Ao Redor do Precipício, um sinal de como é querido, cercando-se de nomes de diferentes gerações da música brasileira como: Pupillo, Alice Caymmi, Jards Macalé, Luiz Melodia, Ritchie, Serginho Trombone, Carlos Malta, Leonardo Reis, Arthur Verocai, Mauro Santa Cecília, Zeca Baleiro, Leoni, Dulce Quental, Antonio Cicero, George Israel e Luís Nenung. Abaixo, Frejat comenta cada uma das faixas do seu novo álbum: Ao Redor do Precipício “O álbum tem três vinhetas, uma abre, outra está meio que no momento divisório do álbum, – pode não ser na metade, mas está num momento bem divisório do álbum em relação a estética –, e a outra fecha o álbum. A que abre é justamente o título do álbum, ‘Ao Redor Do Precipício’, uma música que tem uma levada meio diferente, a pulsação dela, montei uma melodia com várias vozes juntas, que é uma coisa de que gosto muito, que o David Crosby, do Crosby, Stills, Nash & Young, faz e adoro. Sou apaixonado pelo trabalho dele e, de repente, neste momento, tive uma maneira de fazer uma homenagem e ao mesmo tempo mostrar toda a minha deferência, achei que ficou legal. Na verdade, esta vinheta e a última têm uma origem curiosa. Às vezes fico tocando, pinta uma ideia musical e eu gravo. Só que nunca usei nenhuma dessas ideias, tenho uma tonelada de ideias guardadas lá e não usava, porque, na verdade, faço na maior parte do tempo música sobre letra, então não faz muito sentido fazer uma música antes, porque vai chegar uma outra letra e é muito difícil que uma coisa faça sentido com a outra. Resolvi que estava querendo misturar umas coisas instrumentais no álbum, para poder curtir um lance musical, puramente musical. Falei, ‘Pô, vou usar essas ideias que tenho guardadas aqui no meu gravadorzinho do telefone, que passo para o computador para ficar guardado’. Fui lá escutar umas e lembrei dessa, que tinha uma onda meio africana, uma coisa meio quebrada. A gente gravou, com todo mundo tocando junto e foi muito legal, muito bacana. Esta foi com Pupillo na batera, Leonardo Reis também, todo mundo… Humberto Barros fazendo um teclado maravilhoso. Por acaso, esta não tem o Maurício Negão porque ele teve que sair mais cedo para fazer um show com o Ney Matogrosso, por isso ele não está nesta faixa.” Te Amei Ali “É uma parceria minha com o Zeca Baleiro. Já é, sei lá, a terceira ou quarta parceria nossa. Adoro o Zeca, adoro o trabalho dele, ele como pessoa, um querido amigo, já tocamos juntos, cantamos juntos. Ele já tinha gravado esta música, que foi, aliás, um single do último ou do penúltimo trabalho dele (O Amor no Caos, Vol.1, de 2019), e a gravação dele é ótima, muito boa. Mas achei que tinha um jeito meu de fazer também e quis fazer. Engraçado que tenho isso em relação a esta música e a ‘Amar Um Pouco Mais’, que o Leoni já tinha gravado também. Em ‘Te Amei Ali’ fui mais para o lado do rhythm and blues, do soul mesmo, que eu gosto. Tem um arranjo maravilhoso do Serginho Trombone, é uma das músicas que têm um papo de guitarra muito legal meu com o Maurício Negão, a gente junto assim, tem um bate-bola muito legal. Tem uma letra ótima do Zeca Baleiro, o Zeca escreve muito bem. É uma música boa para abrir o álbum. Uma música muito boa, que poderia tranquilamente estar no show e não necessariamente foi um single do álbum.” Amar Um Pouco Mais “‘Amar Um Pouco Mais’ é a questão de você ter uma música que já foi gravada por outra pessoa, pois ela também já tinha sido gravada pelo Leoni, tinha sido single do álbum anterior dele (Notícias de Mim, de 2015). Na real, ela é uma música de cuja letra gosto muito, tem uma mensagem forte, e a gente fez uma versão da qual, particularmente, estou muito orgulhoso. Acho que a gente conseguiu fazer uma coisa muito legal de arranjo, começa com um piano bonito do Humberto, tem um coro forte. Assim, este é um álbum em que acho que estou cantando com muita certeza as coisas que estou cantando, sabe? Acho que as interpretações vocais estão muito fortes e esta é uma delas. Particularmente, gosto das interpretações do álbum, acho que elas são muito seguras.” Pergunta Urgente “É a única música do álbum que não é de autoria minha, é do Luís Nenung, e escolhi como single porque a letra desta música fala muito sobre como sinto essa necessidade da gente querer fazer coisas. De sentir que está sempre faltando alguma coisa que a gente queria fazer e que não deu tempo, porque hoje a gente vive uma vida muito sobrecarregada no dia a dia. O cotidiano de nós todos é muito sobrecarregado de obrigações, de compromissos, a gente está sempre com a sensação de que não conseguiu fazer tudo o que a gente precisaria fazer ou gostaria de fazer, né? E ela tem uma letra muito bacana. Ela ficou uma balada delicada, tem uma guitarra pedal steel do Rick Ferreira que dá um tom muito bacana, um piano muito bonito também, do Humberto. É uma música bem delicada e ela tem a participação do Ritchie fazendo vocais. Ele participa de duas músicas. Nesta, o vocal dele é assim, mais simples, não é uma coisa tão forte dentro da música. Ele entra num momento de intervalo entre a primeira e a segunda parte da música, então ele meio que divide a música ao meio.” Cartas e Versos “‘Cartas e Versos’ é mais uma parceria com o Leoni. Esta música tem uma onda um pouco mais latina. E é engraçado que, assim, achava que ela era uma música muito delicada e tal, e todo mundo que ouvia o álbum falava: ‘Esta música é o single do álbum’. Eu ficava completamente surpreso, porque via muito ‘Pergunta Urgente’ como o grande single do álbum. Para mim, quando ouvia as músicas do álbum, falava: ‘Pô, esta música é o primeiro single’. Engraçado que, quando comecei a mostrar para a equipe, todo mundo falou: ‘Cartas e Versos’... Caramba, bicho, esta música no rádio vai funcionar muito bem e tal’. Falei: ‘Caramba, que coisa surpreendente’.” Batidão “‘Batidão’ é uma instrumental. Na verdade, vou te falar, ela soou diferente porque também me dei a liberdade dela soar diferente. A minha ideia era botar uma guitarra pesada naquele batidão 150 bpm. A gente fez, o Leonardo estava fazendo essa levada do batidão, só que o Pupillo fez uma levada na bateria, mudou tudo. Então você não tem a mesma sensação da levada do batidão por causa da levada da bateria. Mas achei aquilo tão original que falei: ‘Pô, bicho, este é o nosso batidão’. Esta foi feita com todo mundo junto, tanto que ela é de autoria de todo mundo. Dei autoria para todo mundo, porque a gente fez junto ali, é uma coisa rápida, é um corte, né? E ela dá justamente aquele corte para as coisas que começam a ser mais diferentes do padrão do que as pessoas esperam de mim, como uma coisa de quem vem de uma banda de rock ou de quem tem baladas de que as pessoas gostam.” E Você Diz “Essa é uma parceria com meus queridos amigos. (Luiz) Melodia fez isso, quando a gente o gravou ainda era vivo, ele não chegou a ouvir, a gente ficou enchendo o saco dele para ele vir ouvir, mas ele não queria sair de casa, muito bicho do mato. Para arrancar o Melodia de casa era difícil. Aí, a gente fez a música, eu e o (Jard) Macalé, com a letra que é do Macalé e do Melodia. Cara, gosto muito desta música, acho que o arranjo dela ficou muito rico. Tem uma coisa do (Carlos) Malta, ele fez umas flautas maravilhosas e ficou muito bacana o arranjo todo. E é uma música que, quando a gente fez, ela talvez não tivesse esta conotação que tem hoje, porque você diz e é desmentido, é a própria fake news, né, cara? É a melô da fake news, né? Hoje é o que mais acontece, você diz e eu desminto. A quantidade de gente falando coisa que não é verdade é enorme, é muito curioso. Para mim, é uma honra ser parceiro dos dois, já era parceiro do Melodia em outras composições, também já era parceiro do Jards em outra. A gente até gravou para o álbum, mas achei que já tinha muita música no álbum e tirei, em outro momento a gente vai colocar. Provavelmente, eu e Jards vamos fazer outras, porque a gente tem estado muito próximo, trocado muita ideia juntos e papos, então acredito que a gente deva fazer mais coisas juntos.” Planetas Distantes “‘Planetas Distantes’ é uma parceria com Dulce (Quental), que já é minha parceria de muitos anos, querida. A gente já tinha feito essa música há bastante tempo e foi exatamente a música que deu a partida para o álbum, né? É uma música que fala de uma relação de duas pessoas, que a gente não sabe até que ponto pode dar certo ou pode não dar certo. Tem uma coisa meio festeira no refrão e, ao mesmo tempo, tem uma coisa bem eletrônica, que me agradou muito, um trabalho do Humberto. E é engraçado que você vê, por exemplo, o Kassin nesta música. Ele chegou e a música estava praticamente pronta, mas ele fez dois ou três comentários sobre ela, e eles consertaram os defeitos, as deficiências, que eu e o Humberto já sabíamos que ela tinha, mas eu e o Humberto não conseguimos identificar. Ele foi lá e pum, deu dois tirinhos e pronto, resolveu o problema. É uma música diferente de outras coisas que já gravei, mas, particularmente, gosto muito. Tem um momento que gosto, que é meio Depeche Mode, que acho legal pra caramba.” Tudo o Que Consegui “É uma parceria com meu parceiro Mauro Santa Cecília, de ‘Amor Pra Recomeçar’, ‘Por Você’, ‘Sobre Nós Dois e o Resto do Mundo’, várias canções. Antonio Cicero, o imortal, não preciso definir, meu querido. Um grande compositor, já é meu parceiro de outra música. Em ‘Tudo o Que Consegui’ a gente, na verdade, pegou um poema. O Mauro pegou um poema do Cicero e adaptou e eu musiquei. É uma letra muito bacana, uma letra forte, ela não é tão festeira quanto a música. Mas é engraçada esta mistura, porque você vê que a gente consegue falar de uma coisa séria com uma música que é mais festeira e isso dá um resultado bacana, essa contradição, esse paradoxo. Ela tem um arranjo maravilhoso do Serginho Trombone, de metais. Acho, assim, que nesta ele acertou na veia. Muito boa. Ela é totalmente álbum, mas a gente não teve essa intenção, ela ficou festeira mesmo, bem álbum.” A Sua Dor É Minha “É uma parceria com George Israel e Mauro Santa Cecília. É uma música antiga, acho que ela já existia, acho que ela foi feita mais ou menos por volta de 2003. Lembrei dela, porque gosto muito da melodia do refrão, ela vinha sempre na minha cabeça esta melodia. Eu falava: ‘Tenho que gravar essa música’. Só que, na hora de gravar, pensei: ‘Pô, o personagem é feminino, e hoje a gente está num momento de empoderamento feminino, né? Imagina, quem sou eu para agora, neste momento, cantar uma música no feminino, poderia ser apedrejado em público, né? Então achei bacana chamar uma cantora para cantar essa personagem, que é uma dominatrix e eu adorei. A Alice Caymmi gravou brilhantemente, ela abrilhantou a música. Acho que ela realmente trouxe, entendeu completamente a personagem, comprou o barulho, que é um barulho corajoso, porque é uma personagem forte, e ela mandou muito bem. Tem as cordas do (Arthur) Verocai, que são maravilhosas. Essas cordas, aliás, são cordas extremamente rock’n’roll. São cordas que os caras tocam com uma pressão, como se fossem uma banda de rock. O arranjo dele é maravilhoso, ele realmente faz a música chegar a lugares que ela não chegaria sem esse arranjo de cordas dele.” Todo Mundo Sofre “‘Todo Mundo Sofre’ é outra parceria com o Leoni. É uma música que adoro. Curiosamente, toco baixo nela, toco violão e uma guitarra bem básica. Todas as outras guitarras são do Rafael (Frejat), meu filho, e tem um teclado só, um Clavinet, que é do Humberto. Os outros teclados todos também são do Rafael e o Pupillo gravou a bateria. Porque tinha uma bateria programada, tiramos a bateria programada e botamos a bateria de verdade dele. Aliás, é maravilhosa esta performance dele. O que eu acho bacana, porque a ‘Todo Mundo Sofre’ é aquele momento fundo do poço mesmo, dor de cotovelo, até o final dos tempos. Ela tem uma coisa muito bacana, porque meu filho ficava aqui no estúdio e um dia ele falou: ‘Pô, ouvi uma música legal pra caramba’. Eu falei: ‘Qual?’. ‘Todo Mundo Sofre’. Falei: ‘Pô, que bom que você gostou, adoro essa musica. Ele falou: ‘Posso mexer?’ Eu falei, ‘Lógico, né? Qual pai que não quer o filho mexendo na música dele, lógico que quero’. Aí ele mexeu, botou uma porção de guitarras diferentes, uns teclados diferentes, e eu adorei. Tudo o que ele botou ficou. A gente só botou esta bateria, que estava no lugar da bateria que estava programada, o Humberto botou um Clavinet, e a voz. Aliás, é a voz da demo. É a voz do dia que fiz a música. Gravou e ficou. Gravei, sei lá, cinco, seis anos atrás. É muito bacana isso, coisa que talvez eu mesmo tenha gravado essa voz. Estava sozinho de noite no estúdio e tal.” Por Mais Que Eu Saiba “‘É um xodozinho esta música, outra parceria com o Leoni. Adoro esta música. Para esta música, cheguei para os meninos e falei: ‘Cara, vejo esta música como ‘Pet Sounds’, dos Beach Boys, saca?’. Aqueles arranjos que o Brian Wilson fazia, aquelas músicas e tal. A gente foi fazendo, fazendo, até o momento em que a gente descobriu que tinha que ter aquela abordagem mais orquestral para o ritmo, como eu falei, e o Verocai fez um arranjo lindo. Além de tudo, tem uma participação brilhante do Ritchie nos backing vocals, ele faz aquele backing vocal mais beatlemaníaco, mais ‘Sgt .Pepper’s’, em que a voz mistura, repetindo o contraponto, frases da letra com o vocal principal. Ficou muito legal. Fiquei muito orgulhoso porque o Ritchie é um querido amigo, meu vizinho, a gente se encontra na rua e tal, maior carinho, respeito. Eu era público do Vímana, cara. Assistia a ele no Vímana, não era nem ‘Menina Veneno’. ‘Menina Veneno’ já é parte dois. Para mim, ter o Ritchie num álbum meu é um orgulho, cara. É uma honra muito grande mesmo, e ele foi um querido, veio aqui, no maior astral, trabalhou, fez vários vocais, foi supercriativo, foi muito legal.” Parada de Estrada Vazia “É outra dessas músicas que fiz e que ficaram gravadas lá no telefone e uma hora peguei a ideia. Esta foi gravada com todo mundo tocando junto. Depois gravei slide elétrico, slide que faz o tema mesmo, tem um dobro que está na base. Esse dobro foi gravado com todo mundo junto ali. Mas a guitarra tem um slide meio solo, que gravei depois, quis dar esse lado meio cool, esse lado gostoso para o álbum terminar. Para o álbum não terminar pra baixo, porque ‘Por Mais Que Eu Saiba’ é uma música também muito sofrida, né? Porque a letra é, ‘por mais que eu saiba desde o início, ando ao redor do precipício’. Tipo, desde o começo o cara sabe que vai dar uma m•••a. Falei: ‘Não quero terminar nesse tom’ (risos). Então esta música é perfeita para fechar o álbum, coloquei esta vinheta que dá um ar mais leve e mais suave para o álbum, e ela tem uma onda meio J.J. Cale, que é um cara que adoro, tem essa onda meio de estrada vazia, sabe? Então ela é bem essa cara mesmo.”

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